"Compass to Publish": ferramenta ajuda a identificar revistas e editoras predadoras

Serviço da Universidade de Liège auxilia investigadores a determinar grau de autenticidade de revistas de acesso aberto

LC
Lorena Caliman
14 dezembro, 2020≈ 6 mins de leitura

A Universidade de Liège disponibilizou, no final de novembro, a versão Beta da ferramenta "Compass to Publish", serviço que, através de diversos critérios, quantifica o grau de autenticidade de revistas científicas de acesso aberto que exigem ou escondem a exigência de taxas de processamento de artigos para autores (APCs, na sigla em inglês).

A ferramenta online de avaliação apresenta uma escala de resultados com 7 cores, que categorizam o caráter falso ou enganoso das revistas testadas. Nos limites, estão o vermelho escuro - indicativo de que a revista é muito provavelmente predatória, sendo melhor evitá-la - e o verde escuro - indicando que as respostas ao teste demonstram grande probabilidade de não se tratar de uma publicação predatória. A ideia por detrás da escala de sete cores é permitir uma visão com mais nuances, em comparação com a lógica binária de listas e bases de dados confiáveis que já existem.

O serviço usa um método de avaliação baseado em 26 critérios em forma de perguntas para o utilizador. Os critérios e perguntas são resultado de um trabalho crítico e analítico da equipa por detrás da ferramenta, que examinou as práticas de um número significativo de revistas e editoras predadoras. A equipa realizou ainda uma pesquisa qualitativa e seleção de critérios desenvolvidos por listas e diretórios confiáveis, de onde foram selecionados aqueles realmente incriminatórios e fáceis de confirmar, suficientemente relevantes e claros, e amigáveis/fáceis de usar.

Os 26 critérios são divididos em 7 secções principais: listas confiáveis (indexadores), listas de alegadas revistas e editoras predadoras (conhecidas como 'blacklists'), revistas sequestradas, indexação e métricas, corpo editorial e revisão por pares, conteúdo e apresentação, e estratégias de comunicação. Confira a lista completa de questões englobadas pelo teste.

Sobre revistas e editoras predatórias

A importância deste tipo de ferramenta é realçada, tendo em vista estimativas de que apenas em 2014 foram publicados entre 255 mil e 420 mil artigos em revistas predadoras. Uma investigação internacional sobre Ciência Falsa ("Fake Science") feita por dezenas de veículos jornalísticos, incluindo o jornal Le Monde, o alemão Süddeutsche Zeitung e a revista The New Yorker, reportou em 2018 que poderiam existir mais de 10.000 revistas predadoras em atuação.

As revistas predadoras fazem-se passar por revistas que publicam em acesso aberto e cobram taxas aos autores (APCs) por serviços que afirmam prestar. Porém, frequentemente elas não fornecem esses serviços, ou o fazem apenas superficialmente. Apesar de alegarem prestar serviços que incluem as políticas de arquivamento e indexação, revisão editorial, edição, formatação e processo de revisão por pares, muitas vezes não os fazem - e em alguns casos, nem mesmo publicam o material pelo qual as taxas foram cobradas.

O modelo de pagamento por autores, apropriado por essas publicações, é comum em publicações académicas. Ele permite que os leitores tenham acesso livre e aberto aos conteúdos de investigação através das taxas pagas, seja pelos autores, por suas instituições ou financiadores. O modelo de pagamento pelo autor, contudo, não é o mais comum na publicação em Acesso Aberto: mais de 70% das revistas incluídas no DOAJ (Diretório de Revistas Científicas em Acesso Aberto) não exigem pagamento de APCs.

As editoras e revistas predadoras usam um modelo de negócio baseado na publicação quantitativa, pela simples razão de que, quanto mais publicam, mais dinheiro recebem. Para maximizar as suas margens de lucro, as editoras predadoras geralmente têm um catálogo muito amplo de revistas, e as revistas predadoras geralmente adotam uma estratégia de publicação de alta frequência, libertando grande número de edições.

Investigadores que desejam manter-se competitivos através da publicação rápida podem tornar-se vítimas fáceis deste tipo de publicação. É comum que instituições ligadas à comunicação científica ainda usem métodos primariamente quantitativos de avaliação da investigação, o que pode influenciar os investigadores a publicarem em canais predatórios, seja de maneira deliberada, seja involuntariamente.

Além dos modelos de publicação em acesso aberto, o fenómeno da 'fake science' também está associado a conferências falsas e às chamadas "vanity presses" (casas editoriais em que os autores pagam para ter os seus livros publicados) que se oferecem para publicar trabalhos de estudantes e investigadores usando um modelo de print-on-demand sem fornecer serviços sérios de publicação como revisão editorial, por pares, edição, formatação etc.

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Conheça o site do Compass to Publish

Aceda ao teste.

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