Banda Desenhada promove prevenção da doença do fígado gordo

Investigação coordenada pela UC valoriza a comunicação de ciência e seu impacto

LC
Lorena Caliman
15 janeiro, 2021≈ 7 mins de leitura

Realizar comunicação de ciência com rigor e avaliar o seu impacto, levando informação ao maior número de pessoas possível. Essas atividades são parte do trabalho de uma equipa do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra que tem promovido, através de suas investigações, estratégias de comunicação e prevenção da doença do fígado gordo não alcoólico (NAFLD, na sigla em inglês). Recentemente, o grupo disponibilizou na web uma Banda Desenhada que inclui a participação do público para a avaliação da sua eficácia enquanto estratégia de consciencialização e prevenção da doença.

A Banda Desenhada em questão tem como título ‘Um Fígado Equilibrado É Meio Caminho Andado!’, e é assinada pelos alunos de doutoramento do Programa Doutoral em Biologia Experimental e Biomedicina (PDBEB) da UC, Mireia Alemany i Pagès (responsável pelo conceito e história) e Rui Tavares (autor das ilustrações), em parceria com seus orientadores: João Ramalho-Santos (criador do guião do livro) e Anabela Marisa Azul (apoio editorial). João Ramalho-Santos e Anabela Marisa Azul fazem parte da coordenação do projeto internacional de investigação sobre o fígado gordo (Projeto Foie Gras) que conta com 13 investigadores juniores de diferentes países. O trabalho de doutoramento da aluna Mireia Alemany i Pagès é um deles, e centra-se exclusivamente na comunicação de ciência da NAFLD.

A produção da Banda Desenhada resultou de uma investigação da aluna catalã em coautoria com seus orientadores e outros investigadores das áreas de Psicologia, Sociologia e Medicina, contando também com a colaboração de doentes e de seus cuidadores. A investigação teve como base entrevistas com diabéticos de tipo 2, com o intuito de perceber o nível de conhecimento dessa população acerca da doença do fígado gordo e sua relação com a diabetes. Os resultados da pesquisa demonstraram uma baixa percepção dos doentes acerca da doença do fígado gordo, e sugeriram que o aumento de sua consciencialização poderia facilitar o desenvolvimento de programas de prevenção e a promoção de estilos de vida saudáveis. Além disso, um dado importante apontado no artigo publicado pelo grupo - disponível em acesso aberto na revista BMC Public Health - é de que cerca de 70% dos doentes de diabetes de tipo 2 têm fígado gordo não alcoólico.

A BD foi criada a partir das histórias de vida dos diabéticos entrevistados, tendo em conta também as dúvidas sobre a doença apontadas pelos próprios; o livro agrega informações científicas que respondem a suas curiosidades e informações que são consideradas importantes por parte dos cuidadores. O livro ainda informa - de maneira acessível a pessoas de todas as idades - sobre a fisiologia e funções do fígado, as características da doença, e formas para preveni-la e tratá-la.

O público em geral é também trazido para o centro da investigação na maneira com que a BD está a ser disseminada. Disponível no site www.figadogordo.com, o acesso ao livro é precedido por um breve questionário que procura colher informações sobre o conhecimento da população acerca da doença do fígado gordo; após a leitura da BD, são feitas novas perguntas. A intenção com as perguntas e respostas é gerar dados acerca do impacto do livro enquanto estratégia de comunicação de ciência, para apoiar programas de prevenção e suporte - a partir das respostas, será avaliado o impacto da iniciativa. O objetivo é então medir a eficácia da BD para consciencializar a população, uma avaliação inédita no âmbito da comunicação de ciência.

Para João Ramalho-Santos, essa iniciativa é um exemplo do que chama de Ciência Participativa bidirecional. “Procuramos criar, dinamizar e avaliar estratégias que ajudem os próprios doentes a controlar a sua saúde e informar outros”, destaca. O investigador afirma que, desde o início, o projeto foi pensado com esses objetivos em mente: ajudar os doentes, informar, comunicar e prevenir. Ele ressalta ainda a importância e necessidade de se olhar a Comunicação de Ciência enquanto uma área exigente em si mesma, e não apenas uma atividade acessória. A respeito dela, o investigador afirma que “se bem implementada, é fundamental para termos maior e melhor verdadeira democratização da ciência, não só Aberta, mas Participada e Crítica”.

Todas as publicações relacionadas à investigação sobre a comunicação de ciência do fígado gordo serão disponibilizadas em acesso aberto, afirma o professor catedrático da UC. A própria BD, inclusive, além de já estar disponível online e aberta à participação através do questionário, será publicada pela Imprensa da UC e receberá versões nas línguas dos outros países envolvidos no projeto Foie Gras. Há, ainda, a possibilidade de tradução para quem quiser fazê-lo. “Só assim cumpriremos os objetivos de divulgação mais ampla possível do projeto”, pondera o biólogo e professor do DCV.

Sobre o projeto Foie Gras

O Projeto a partir do qual foi criada a Banda Desenhada ‘Um Fígado Equilibrado é Meio Caminho Andando!’ faz parte da Rede Europeia de Formação Avançada Froie Gras, coordenado pelo CNC e financiado pelo Programa Horizonte 2020 da União Europeia com 3,2 milhões de euros, dentro do programa Marie Sklodowska-Curie.

O projeto conta com 13 instituições de 7 países - Portugal, República Checa, Itália, Polónia, França, Alemanha e Espanha -, e apoia a investigação avançada de 13 investigadores juniores, alunos de doutoramento, em diferentes tópicos relativos ao estudo da doença do fígado gordo não-alcoólico (NAFLD). Em Portugal participam, além da UC, a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, a Universidade do Porto e a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP).

| Participe |

Aceda ao questionário e à Banda Desenhada 'Um Fígado Equilibrado É Meio Caminho Andado!'.

Conheça mais sobre o projeto Foie Gras.