A evolução do português, do latim às ex-colónias

Na abertura do Congresso Internacional de Língua Portuguesa: uma Língua de Futuro falou-se sobre "As dinâmicas de Inovação da Língua Portuguesa"

02 dezembro, 2015≈ 4 mins de leitura

© UC | Marta Costa

Uma viagem pelo desenvolvimento da língua portuguesa desde o século XV até aos dias de hoje, com passagem por terras moçambicanas, deu o mote para a inauguração da sala C do Convento de S. Francisco no Congresso Internacional de Língua Portuguesa: Uma Língua de Futuro. “As dinâmicas de inovação da língua e de literatura” foi o tema da Sessão 3 do primeiro dia do congresso, com as oradoras Silvania Chagas e Clara Barros.

Silvania Chagas deu início ao painel com a comunicação “A palavra: magia e poder na obra de Mia Couto”, uma reflexão sobre a força da palavra na transmissão da cultura com base na obra do escritor moçambicano. A leitura de excertos de Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra e de Terra Sonâmbula trouxe para a discussão a utilização da língua portuguesa.

A oradora pôs a hipótese da palavra como “um encantamento criador, mas também potencial destruidor” de tradições culturais quando uma língua se sobrepõe a outras. Contudo, a “potencialização da palavra” nos livros de Mia Couto levou também a perceber que a mistura de dialetos entre ex-colonizadores e ex-colonizados provoca, na verdade, uma troca e evolução nas culturas dos diferentes países envolvidos.

Já Clara Barros abordou também outros textos, desta vez de cariz literário e jurídico, com a intenção de perceber a introdução de vocábulos latinos na língua portuguesa no século XV. “Inovação lexical da língua portuguesa” foi o título da intervenção, que se baseou na importação de estrangeirismos para o idioma durante a época medieval.

O latim, na altura, seria usado para “preencher vazios semânticos na língua portuguesa”, numa utilização consciente e propositada que acabou por contribuir para a evolução do português moderno. Eventualmente, a apropriação de termos latinos mudou a língua portuguesa e prolongou a vida do latim.

Houve tempo ainda para uma série de intervenções do público. A assistência contribuiu para o desenvolvimento dos temas com exemplos do que acontecia com o crioulo, cuja forma escrita adota grafias diferentes da portuguesa num gesto de rebeldia contra o país ex-colonizador. Uma das intervenientes foi Luísa Carvalho, professora de português em Angola, que achou “curiosa” a junção de “duas perspetivas temporais muito diferentes”. No fim, Luísa destaca a ideia de que “as línguas evoluem, estão sempre em construção e tudo pode influenciar o seu desenvolvimento”.

 

Reportagem realizada por Vasco Sampaio, estudante da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

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