Os neandertais foram pioneiros na exploração dos recursos marinhos

A revista Science publicou um estudo na Gruta da Figueira Brava (Portinho da Arrábida) revelando que a pesca e a recoleção de marisco contribuíram de forma muito significativa para a economia de subsistência dos neandertais no Paleolítico Médio.

09 abril, 2020≈ 3 mins de leitura

A revista Science publicou um estudo na Gruta da Figueira Brava (Portinho da Arrábida) revelando que a pesca e a recoleção de marisco contribuíram de forma muito significativa para a economia de subsistência dos neandertais no Paleolítico Médio.

Este trabalho foi dirigido por João Zilhão, investigador do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ) e autor sénior do artigo. O estudo contou ainda com colaborações interdisciplinares de duas dezenas de coautores de várias instituições internacionais, incluindo a Universidade de Coimbra, através do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia e do CITEUC - Centro de Investigação da Terra e do Espaço, em que o investigador P. Callapez participou na classificação taxonómica dos moluscos utilizados como alimento.

A gruta foi usada de forma continuada como lugar de habitação ao largo dos vinte milénios compreendidos entre há 106 e 86 mil anos — ou seja, durante o último período interglaciar, quando o clima da Terra era parecido com o atual. Os vestígios arqueológicos deixados por essas comunidades do Homem de Neandertal — cinzas, carvões e outros provas de uma utilização intensiva do fogo, utensílios em quartzo e sílex, restos alimentares — são abundantes.

As conclusões deste estudo multidisciplinar demonstram que a maioria dos neandertais terá vivido como os da Figueira Brava, que a familiaridade dos humanos com o mar e os seus recursos é muito mais antiga do que até agora se pensava, e que a imagem de neandertais como gentes do frio, especializados na caça de mamutes, rinocerontes, bisontes e renas, é uma distorção criada pela história da investigação arqueológica.

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