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Rã no pântano

de António de Almeida Santos

O relatório n.º 6 497 do Major José de Sousa Chaves da Comissão de Censura, arrumou em quatro linhas um veredito: «são nove contos, sete dos quais contém assuntos de índole imoral e anti-social, motivo por que entendo que o presente livro não possa circular no País».

PROIBIDO E APREENDIDO

Ouve aqui um trecho «imoral e anti-social», lido por Cristina Grimaldi (TEUC)

«Os indígenas não passam de crianças. Afirmou [o Administrador] a sua fé no poder persuasivo da palavra quando secundada pelo justo exemplo. O seu programa era um programa de trabalho (…)

- Homem! – Fala, dize o que pensas!

Encorajado, o velho aventurou:

- Eu está pidindo muita desculpa siô chefe mas a gente num intende direito. Machamba é bom. Negro trabaia, tem machamba. Boi é bom. Negro trabaia, tem boi. Depois gente trabaia, trabaia, e tem casa. Casa muito bom. Mas depois inda trabaia mais? Ih!...

Um sorriso paternal iluminou o rosto do meu D. Quichote.

- Claro que sim – elucidou – depois compra carro, manda estudar os filhos.

A coisa fazia espécie ao velho chefe negro.

- Meu cabeça não é bom, siô chefe. Gente compra casa, compra carro, manda os fio no escola. Gente gosta dos fio no escola. Mas num discança nunca?

(…) Pra qui trabaia tanto pra fim discançar? Negro já está discansando…» (p. 112, 115).