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Ida e volta duma caixa de cigarros

de Maria Archer

O livro saiu com críticas muito desfavoráveis em jornais situacionistas. A Censura requisitou um exemplar para ser examinado e verificando que «nas duas primeiras novelas, de caracter acentuadamente erótico, a autora compraz-se na volúpia do pormenor sensual, que parece ser o único objetivo», proíbe o livro e pede a sua apreensão à Polícia.

PROIBIDO E APREENDIDO
Ouve aqui extratos «acentuadamente eróticos» da primeira novela, lidos por Adriana Campos

«Uma noite, em casa dela, no mesmo quarto onde agora recordava o passado, abandonara-se às carícias de Manuel. Ela ardia como se no seu corpo se concentrasse todo o esplendor de uma manhã de sol. Esperava perder-se numa apoteóse sem par; mas a sensação não correspondera à ansiedade. Que se passara nela, nêle, no ambiente? Um não sei quê surgira, paralisando-a como se fora assombrada. Ah! Como Manuel se desfeára! Contraído, torcido, a cara vincada como máscara de tragédia! Marietta chegara a ter mêdo. E frágil de corpo, enfermiço, não deixava nela a dor fascinante do esmagamento, a violência sedutora dum vendaval irresistível. Sim, era ardente no amor, vibrante, sedento das horas infinitas que se não contam. Mas largava-a insatisfeita, intacta na sua ansiedade, inquieta e aterrada perante o deus que descia à terra e regressava ao seu trono de núvens sem deflagrar o milagre.» (p. 21-22).