O censor considerou-o «imoral. Contos de misérias sociais e em que o aspeto sexual se revela indecorosamente. De proibir». Como notou Sofia Vargas no exemplar submetido à Censura «cenas que atualmente parecem perfeitamente inocentes, ou termos como "nu", "camandro", "lábios no corpo", estão sublinhados ou riscados». (cf. Vargas2015).
PROIBIDO POR «IMORAL»
Ouve aqui um trecho sobre o qual o censor teve dúvidas, lido por Carolina Andrade (Marionet)
«E mesmo que se metesse num carro? Suponhamos que sim e que ela se senta ao lado do volante, muito direita, as pernas unidas e as mãos a tremerem segurando os joelhos.
O homem dir-lhe-á mais ou menos isto:
“Queres ir para algum sítio?”
E ela:
“Não, senhor.”
“Nesse caso, podemos parar aí adiante.”
Esmeralda continuava onde estava, O homem deita uma olhadela a percorrer-lhe o corpo.
“Queres que feche a telefonia?”
“Como o senhor quiser.”
“Não. Tu é que mandas. E não gosto que me trates por senhor, combinado?’”
“Sim, senhor.”
Uma gargalhada do homem que se dobra todo sobre o volante.
“Uma tipa gira. Sim senhor, não senhor. Uma tipa gira é que tu me saíste”.
“An?, e Esmeralda encara-o pela primeira vez com o espanto de quem acorda num local inesperado.» (p. 91)