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Histórias de amor

de José Cardoso Pires

O censor considerou-o «imoral. Contos de misérias sociais e em que o aspeto sexual se revela indecorosamente. De proibir». Como notou Sofia Vargas no exemplar submetido à Censura «cenas que atualmente parecem perfeitamente inocentes, ou termos como "nu", "camandro", "lábios no corpo", estão sublinhados ou riscados». (cf. Vargas2015).

PROIBIDO POR «IMORAL»

Ouve aqui um trecho sobre o qual o censor teve dúvidas, lido por Carolina Andrade (Marionet)

«E mesmo que se metesse num carro? Suponhamos que sim e que ela se senta ao lado do volante, muito direita, as pernas unidas e as mãos a tremerem segurando os joelhos.

O homem dir-lhe-á mais ou menos isto:

“Queres ir para algum sítio?”

E ela:

“Não, senhor.”

“Nesse caso, podemos parar aí adiante.”

Esmeralda continuava onde estava, O homem deita uma olhadela a percorrer-lhe o corpo.

“Queres que feche a telefonia?”

“Como o senhor quiser.”

“Não. Tu é que mandas. E não gosto que me trates por senhor, combinado?’”

“Sim, senhor.”

Uma gargalhada do homem que se dobra todo sobre o volante.

“Uma tipa gira. Sim senhor, não senhor. Uma tipa gira é que tu me saíste”.

“An?, e Esmeralda encara-o pela primeira vez com o espanto de quem acorda num local inesperado.» (p. 91)