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A magrizela

de Maria da Glória

A obra foi proibida aquando da sua publicação, em 1947, por ser considerada «imoral», vindo a ser autorizada, embora com cortes, só 12 anos depois.

O processo de Censura neste caso foi complexo e o livro voltou várias vezes às mãos dos censores literários. De acordo com Ana Bárbara Pedrosa, «No caso de Maria Archer, parece-nos que a ação da censura teve um peso relevante. Graças a ela, a autora perdeu o seu meio de subsistência, tendo de viver mais de duas décadas fora de Portugal. Além disso, enformou-lhe a criação, já que teve de alterar a sua obra de forma que esta pudesse passar ilesa pela mão dos agentes censórios.»

PROIBIDO DE CIRCULAR
Ouve aqui uma cena de amor entre duas estudantes, lida por Ana Teresa Santos (A Escola da Noite)

«Agarrando-se ao pescoço da outra, beijou-a levemente na boca, mas como Célia a tinha agarrado fortemente pela cintura e lhe dizia que repetisse, ala tornou a beijá-la, mas esta vez a outra tinha-lhe recebido o beijo de boca aberta. Para ali ficaram, silenciosas, emocionadas, a beijarem-se primeiro quase suavemente, depois com ardor. Os beijos sucediam-se ora na boca, ora nos olhos, ora no pescoço. Célia, enlouquecida, incitava a jovem companheira. Assim, olha. E punha de fora os grandes seios, fazendo com que Mariazinha enfiasse ali o rosto e lhe sugasse os bicos arrebitados pelo desejo.

Uma, admirada por se poder sentir e fazer tudo aquilo com uma colega, a outra deliciada por ter quem a contentasse. Assim não havia o perigo de ficar grávida, e sabia bem à mesma. Aquela Mariazinha tinha jeito. Correu a fechar a porta à chave, pois queria ser mais audaciosa mas não queria que dessem com elas naquele estado. Ela ainda se dominava um pouco, mas a Maria expandia-se naturalmente, ficando nervosa, género histérico, duma obediência total, que permitia que ela consentisse em loucuras…

A partir dessa altura, andavam sempre juntas (…)» (p. 26-27)