Abordagem da Imprensa Escrita às Alterações Climáticas na Região Autónoma da Madeira e na Comunidade Autónoma das Canárias
 
         
        A Região Autónoma da Madeira e a Comunidade Autónoma das Canárias pertencem à Macaronésia e são regiões ultraperiféricas, sendo particularmente vulneráveis às alterações climáticas (AC). Devido ao seu isolamento e características idiossincráticas, a imprensa escrita tem um papel determinante no contexto dos territórios insulares e na abordagem às AC, pelo que o objetivo deste trabalho é avaliar a abordagem da imprensa escrita às AC num intervalo de dez anos. Utilizámos o descritor “alterações climáticas” para recolher artigos de dois jornais (Canárias 7 e Diário de Notícias da Madeira), compreendendo julho de 2008 e janeiro de 2009, bem como julho de 2018 e janeiro de 2019, reunindo 170 notícias (no total). Para posterior análise, todos os artigos noticiosos foram codificados e categorizados de acordo com cinco grandes categorias (âmbito, entidades envolvidas, temas relacionados com as AC, conteúdo discursivo e posição sobre as AC).
Os resultados confirmaram a prevalência de artigos noticiosos no Diário de Notícias da Madeira em ambos os períodos de análise, mas isso não significa necessariamente que os stakeholders estejam mais receptivos ou preparados para atuar na Madeira. O âmbito foi alargado, dada a prevalência de notícias de âmbito regional nos dois jornais. Quanto às entidades envolvidas, apesar do grande número e diversidade de atores sociais retratados, destaca-se a preponderância de atores políticos e institucionais. Foi noticiada uma grande variedade de temas relacionados com as alterações climáticas, predominando a vulnerabilidade, as consequências das alterações climáticas e as políticas de combate às alterações climáticas (mitigação em geral).
Relativamente ao conteúdo, a atenção centrou-se nos discursos informativos/institucionais, nas opiniões de especialistas e nos discursos críticos. As racionalidades, os saberes e as práticas laicas estiveram praticamente ausentes. Quanto ao posicionamento sobre as AC, a maioria das notícias evidenciou a aceitação de que se trata de um problema incontornável e que as possíveis soluções requerem transformações estruturais no modelo de desenvolvimento das sociedades atuais e uma mudança de paradigma. Outras narrativas coexistiram com esta perspetiva (sobretudo no Diário de Notícias da Madeira), denotando discursos manipuladores e de greenwashing, a par da visão das AC como oportunidade. Defendemos que os meios de comunicação social devem alargar o debate sobre as questões ambientais a todos os atores sociais, incluindo as comunidades locais, fazer a ponte entre os cientistas, técnicos e decisores políticos e a sociedade em geral, e ir além da abordagem mainstream das alterações climáticas e das tendências sensacionalistas, contribuindo para a melhoria do conhecimento, a sensibilização e a construção de soluções, sobretudo a nível regional/local.
 
                         
                    