Uma paródia à história da Sebenta em pratos, doada à Universidade de Coimbra

A doação, de Ana Maria Sabino Domingues, inclui 14 Pratos da Sebenta, uma estatueta do Almirante Rato, que abriu o cortejo do Centenário da Sebenta, e um pequeno texto de Trindade Coelho sobre o mesmo assunto.

MC
Marta Costa
22 maio, 2023≈ 2 mins de leitura

© UC l Ana Bartolomeu

Uma sebenta é, tradicionalmente, o resumo com os rascunhos e exercícios de uma disciplina. Em 1899, para assinalar o que chamaram “o centenário da Sebenta” e munidos do reconhecido humor satírico que os caracteriza, estudantes da Universidade de Coimbra (UC), pintaram uma série de pratos com uma paródia à história da Sebenta. Hoje, 14 desses pratos foram doados à UC por Ana Maria Sabino Domingues, juntamente com uma estatueta e um pequeno texto explicativo.

Com a família a viver no Porto, achou que “para que ficasse em boas mãos, nas mãos de quem se interessasse pela coleção, a UC, mais concretamente o Museu Académico, seria o sítio certo”. De acordo com Ana Maria Sabino Domingues, foi através do avô, João Machado, que os pratos lhes chegaram às mãos. A coleção “conta a história do aparecimento da Sebenta, uma paródia que os estudantes resolveram fazer, em 1899”, explica. Para além disso, a doação incluiu ainda uma estatueta, “um popular de Coimbra” que foi investido pelos estudantes e a quem foi dado “o nome de Almirante Rato e que foi a abrir o cortejo que comemorou o centenário da Sebenta”.

“Esta atitude proactiva da Universidade em querer melhorar e evoluir os seus espólios começa a tocar fundo na própria sensibilidade das pessoas”, acredita o diretor do Museu da Ciência da UC, Paulo Trincão. De acordo com o responsável, pouco tempo depois de ter sido inaugurado e aberto ao público o espaço “Éfe-Érre-Á – Momentos da Vida Académica” é muito importante ver que as pessoas “sentem que a UC está em condições de valorizar o seu espólio e que é o local natural para guardar o seu legado e partilhá-lo com toda a gente”.

O Vice-Reitor para a Cultura, Comunicação e Ciência Aberta da UC, Delfim Leão, garante que atitudes semelhantes mostram que “a Universidade está a cumprir bem o seu papel de preservar a memória”. “É um sinal muito positivo porque, sendo embora parte da sua história pessoal e familiar, é algo que merece ser partilhado, que fala de um universo mais amplo: a experiência da vida estudantil em Coimbra, que marcou e certamente continuará a marcar muitas gerações de estudantes”.

Prato da História da Sebenta, em Faiança do Séc. XIX.


"D. Diniz o Avô da Sebenta"
Assinada "A. Costa"
Em faiança Portuguesa, do séc. XIX, marcada "Afonso Pessoa Coimbra". Com a inscrição "CENTENÁRIO DA SEBENTA - ?1899". Sinais de uso. Cabelado.

“O Centenário da Sebenta que os rapazes fizeram em Coimbra vae em três annos, ainda não tem a poeira do tempo, - ainda não é de in illo tempore; mas os da Commisão e a Academia em peso, não se pouparam a esforços para fazer festa à altura d’elles. – e só aquele banquete na Feira dos Estudantes, a revista naval no Mondego, e então o préstito, que levou umas poucas d´horas a desfilar, só isto merecia um poema!”
COELHO, Trindade – “IN ILLO TEMPORE”, Livraria Aillaud & Cia, Paris-Lisboa, 1902, pág. 195.

“Na olaria do Afonso Pessoa, os estudantes naturais de Coimbra, os Fillhotes, que especialmente tinham chamado a si os trabalhos de organização do banquete, pintavam, sob a direcção artística de Álvaro Viana de Lemos, os pratos que nele deviam servir, dando largas à sua imaginação pictórica.”
CALISTO, Diamantino – “COSTUMES ACADÉMICOS DE ANTANHO”, Imprensa Moderna Lda, Porto, 1950, pág. 42.

Texto de Trindade Coelho, sobre os Pratos da Sebenta

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