Seminário — um projeto que mostra a academia como meio

O projeto Seminário fica patente nas Galerias do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra até 15 julho de 2022.

KP
Karine Paniza
17 maio, 2022≈ 2 mins de leitura

A palavra Seminário vem do do latim seminarium e tem várias definições como: centro de criação de algo, viveiro de plantas; estabelecimento onde recebem instrução os jovens que se destinam à carreira eclesiástica; reunião científica ou cultural para expor e discutir determinado assunto ou problema; turma ou disciplina, geralmente do ensino superior, para estudo ou discussão de um tema ou tópico.

Permitir a reflexão e a articulação com diferentes áreas de conhecimento e de investigação foi o mote para o projeto Seminário. Concetualmente o projeto pretende formular diferentes produções de conhecimento, pensando o espaço académico, as práticas artísticas contemporâneas e a cidade.

"O projeto Seminário tem esta orientação horizontal, diversa, plural e articula quatro exposições: Comer a mesa, The art of teaching, Syllabus e Teach us to sit still", explica a coordenadora do projeto, Ana Rito.

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Eis o que pode fazer:

Segundo a organização a conceção do projeto deriva da ideia de hospitalidade. De artistas a curadores, investigadores e professores do próprio Colégio das Artes e da Universidade de Coimbra a convidados, onde se pretende que seja formada uma comunidade que, através de encontros, workshops, seminários e conversas, funcionará enquanto constelação.

O projeto conta com a curadoria geral do Colégio das Artes e com cinco curadores associados: Lori Zippay, Luís Alegre, Hugo Barata, António Câmara Manuel e Irit Batsry - com obras do arquivo Electronic Arts Intermix e em parceria com os arquivos do Festival Temps d'Images, FUSO – Anual de Videoarte Internacional de Lisboa, Loops.Lisboa e Coleções Privadas.

O Laboratório de Curadoria apresenta em simultâneo uma exposição do artista Marcelo Moscheta com curadoria dos alunos do Mestrado em Estudos Curatoriais e em colaboração com a plataforma UmbigoLAB.

Projeto Seminário


COMER A MESA / EATING THE TABLE

Curadoria/Curated by: Hugo Barata & Luís Alegre

Etiam mensas consumimos. Consumimos até as nossas mesas.
Esta é a expressão que terá sido proferida pelos soldados de Tróia junto de Eneias, fulgurante figura da mitologia clássica referido em dois dos momentos maiores da literatura universal como são Ilíada, de Homero, e Eneida, de Virgílio. Talvez de forma inusitada, surge aqui o herói homérico relacionado com a comensalidade enquanto gesto de resistência. Na narrativa virgiliana, segundo a profecia, terá Eneias colocado à disposição dos seus subalternos um conjunto de alimentos sob a forma de utensílios - pratos e pequenas mesas – dos quais se serviram ali como recetáculos para a comida. É neste momento de consolo e no fundo de sobrevivência, que a ideia de comer a própria mesa deixa de ser um pensamento desesperado para se tornar fundacional de um pensamento sobre os objetos que nos rodeiam.
A imagem que construímos do objeto-mesa possui infindáveis pontos de origem e de conexões históricas. Tal objeto ganhou um protagonismo nos nossos rituais quotidianos, que esperamos que apenas esteja sempre presente, cumprindo a sua função, qualquer que esta possa ser. A sua história é milenar e extremamente peculiar, acompanhou a civilização nas suas evoluções, transformações e cataclismos, foi sinónimo de ritual e de lazer ao mesmo tempo foi lugar de reunião e de partilha, tornou-se espaço privilegiado de estudo, reflexão e investigação. A intertextualidade das artes plásticas com o design e a arquitetura, constituiu um campo vasto de ideologias e de imagéticas nas quais a mesa surgiu como foco principal na constituição de universos artísticos. Existe também uma forte relação com o ateliê/estúdio, com o espaço de trabalho, onde as ideias são nascidas e transformadas, e onde se dá um consequente movimento constelar de investigação artística.
Este projeto de exposição tem como objetivo questionar as interseções entre o espaço de reflexão do artista, do designer, do arquiteto, e do conceito de mesa em sentido amplo. Este conceito, nas suas múltiplas aceções, distende-se e apresenta-se a partir de variadas visualidades e interlocuções. Através de uma abordagem livre de tipologias, pretende-se refletir sobre processos de trabalho, num campo alargado, transversal e especulativo.
Desta forma abre-se não apenas um fio condutor sobre a prática e os próprios processos de criação, tendo nos espaços do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra o cenário ideal.

ARTISTAS

Andy Warhol (por Jørgen Leth)/ António Olaio/ Batia Suter / Carlos Noronha Feio / Cecília Corujo/ Fernanda Fragateiro / Gabriela Albergaria / Gary Hill/ Juliana Julieta / José Maçãs de Carvalho / Lourdes Castro e Manuel Zimbro (por João e Fernando Matos Silva)/ Luís Alegre & Hugo Barata/ Maria Condado / Miguel Palma / Miguel Vieira Baptista e Marta Guerra Belo / Nuno Nunes-Ferreira / Nuno Sousa Vieira/ Pedro Pousada/ Tiago Baptista

THE ART OF TEACHING

Curadoria/Curated by: Lori Zippay, António Câmara Manuel e/and Irit Batsry

Ao longo de onze semanas, a exposição The Art of Teaching apresenta uma seleção de filmes e vídeos de artistas que estendem as ideias exploradas no projeto do Seminário para o domínio da imagem em movimento. Assumindo múltiplos e variados modos de expressão, desde os primeiros documentos de performance a preto-e-branco a um vídeo do YouTube, estes trabalhos interdisciplinares exploram questões epistemológicas e geram correspondências surpreendentes propondo, em última análise, formas alternativas de criar e pensar. Os cinco vídeos selecionados por Lori Zippay – do arquivo da Electronic Arts Intermix (EAI) - assumem a forma e o conteúdo de um modo de instrução diferente - um diálogo público entre artista e audiência, uma lição em sala de aula, uma palestra performativa, uma demonstração de culinária, um tutorial de arte no YouTube - para examinar e criticar de que forma o conhecimento circula na academia, no mundo da arte e na cultura popular. Oito obras selecionadas por Antonio Câmara Manuel e Irit Batsry, extraídas dos arquivos do Festival Temps d’Images, FUSO, Loops.Lisboa e de Coleções Privadas, expandem essas ideias para se envolver com linguagem, literatura, filosofia, natureza e tecnologia. Convidando a interação direta com o espectador, estas obras postulam redefinições originais e muitas vezes radicais do fazer artístico para chegar a novas maneiras de entender o mundo.

ARTISTAS

Carolee Schneemann, Gary Hill, Jayson Scott Musson, João Cristóvão Leitão, João Paulo Serafim, John Baldessari, Joseph Beuys (por/by Willoughby Sharp), Julião Sarmento, Lawrence Abu Hamdan, Mané Pacheco, Martha Rosler, Tiago Rosa-Rosso

PROGRAMA/PROGRAM

16 maio_20 maio
Martha Rosler, Semiotics of the Kitchen, 1975
Cortesia/ Courtesy Electronic Arts Intermix (EAI), New York.


23 maio_27 maio
Carolee Schneemann, Americana I Ching/Apple Pie, 2007 Cortesia/ Courtesy Electronic Arts Intermix (EAI), New York.


30 maio_3 junho
Jayson Scott Musson, Art Thoughtz with Hennessy Youngman: Beuys-Z, 2011 Cortesia/ Courtesy Electronic Arts Intermix (EAI), New York.


6 junho _10 junho
João Cristóvão Leitão, O Retrato de Ulisses 2015
Mané Pacheco, Período azul, 2018
Arquivos/Archives Festival Temps d ́images_Fuso: Anual de Videoarte Internacional de Lisboa_Loops Lisboa_Dupla Cena Cortesia/Courtesy dos artistas/of the artists


13 junho_17 junho
João Paulo Serafim, Extinct Birds , 2019
Arquivos/Archives Festival Temps d ́images_Fuso: Anual de Videoarte Internacional de Lisboa_Loops Lisboa_Dupla Cena Cortesia/Courtesy do artista/of the artist


20 junho_24 junho
Tiago Rosa-Rosso, Zootrópio, 2016
Arquivos/Archives Festival Temps d ́images_Fuso: Anual de Videoarte Internacional de Lisboa_Loops Lisboa_Dupla Cena Cortesia/Courtesy do artista/of the artist


27 junho_1 julho
Julião Sarmento, Rumba, 1976 e Jolie Valse, 2007
Cortesia/Courtesy Coleção Julião Sarmento/ Julião Sarmento ́s Collection


4 julho_8 julho
Gary Hill, Soundings, 1979 Cortesia/Courtesy do artista/of the artist


11 julho _15 de julho
Lawrence Abu Hamdan, Walled Unwalled, 2018 Cortesia/Courtesy do artista/of the artist

SYLLABUS

Curadoria/Curated by: Colégio das Artes

Interromper, adicionar, anotar, suspender, pausar, transpor, colocar fora, movimentar, são processos que geram reformulação, reconfiguração, reclassificação, reterritoralização - condições que, quer no plano curatorial quer no plano iminentemente investigativo/formativo, constituem forças produtivas de conhecimento/significado.

A partir destas premissas, e no contexto de sala de aula, artistas/professores tornam visíveis gestos que - vindos da sua prática artística e/ou curatorial - pretendem sublinhar e explorar, em conjunto, as especificidades dos conceitos de investigação e de ação; a investigação é entendida aqui como o campo a partir do qual podemos construir um universo referencial, e a sua relação com a ação configura um conjunto de dados passíveis de organizar numa correlação de eventos/temas/problemáticas. Nesta base, o pensamento constelar é concebido como um fundamento sistematizado e variado nos seus resultados estéticos e pedagógicos; em Syllabus movem-se conceitos operativos como: montagem/edição vertical, derive, psicogeografia; elipse (cosmologia), loop, travelling, coreografia, performatividade, pathosformel, frame, parergon ou hors champ. Entender a prática investigativa enquanto constelação é potenciar o movimento, é admitir o fluxo intermitente entre todos os elementos envolvidos, do texto à forma, do objeto ao(s) corpo(s) e assumir que cada um destes elementos opera simultaneamente na sua singularidade e nas relações que estabelece no conjunto: da simbólica das vestes talares, aos espaços museográficos da universidade como cenário para a construção da imagem fotográfica; do desenho como exercício epistemológico à investigação em arquitetura; do laboratorório/mesa de montagem às mitologias individuais.

ARTISTAS-PROFESSORES/ARTISTS-TEACHERS

Ana Rito (em colaboração com os alunos do Doutoramento em Arte Contemporânea), António Olaio, Bruno Gil, José Maçãs de Carvalho, Pedro Pousada, Susana Chiocca e Rita Gaspar Vieira.

TEACH US TO SIT STILL

Curadoria/Curated by: alunos do Mestrado em Estudos Curatoriais/ Masters in Curatorial Studies’ students

Marcelo Moscheta

Teach us to sit still é um apelo. É também uma exposição em movimento. Desenvolvida em contexto site- specific com obras de Marcelo Moscheta e com curadoria dos alunos de Mestrado em Estudos Curatoriais, ela inicia e encerra — como uma velha escada que ora sobe, ora desce — aquele que será o caminho vivo do SEMINÁRIO/Seminarium_Curated Research: The Academy as medium. Partindo de um exercício de ressignificação de objetos enquanto memórias materializadas, Moscheta eleva um conjunto de pedras resgatadas do claustro do Colégio das Artes que — suspensas na sua leve e transladada permanência — repousam agora sobre uma série de dispositivos desenhados pelo artista, evocando a essência transmutável da arqueologia sensível de uma ruína temporal. Concomitantemente ao gesto natural e intuitivo da edificação presente em “Desterro”, e simultânea à sua condição física nos eixos da galeria, é também apresentada uma obra de menor escala — “Terrain vague” — onde um pequeno corte em diagonal determina uma rutura espacial que, não obstante à sua qualidade inata de paisagem única e familiar, convoca um novo portal para lugares etéreos e gravidades em suspensão.

Esta é uma exposição em movimento, mas é também uma convocação da demora — even among these rocks.

Esta exposição nasce da parceria entre o Laboratório de Curadoria e a plataforma UmbigoLab.

Curadoria: Adolfo Caboclo Eva Mendes Joana Oliveira Malu Patury Patrícia Lima

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