Prática religiosa e experiência digital durante a pandemia: inquérito à população católica portuguesa

70% dos inquiridos revelaram assistir telematicamente à celebração da missa uma ou mais vezes por semana, sendo o YouTube a plataforma mais utilizada.

20 dezembro, 2021≈ 4 mins de leitura

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A pandemia declarada em março de 2020 não apanhou a Igreja católica desprevenida no que diz respeito à disponibilização de ferramentas digitais, de diversos tipos, para apoiar e complementar a experiência religiosa e espiritual. Uma percentagem significativa de inquiridos já utilizava estes recursos antes de a pandemia se instalar.

Entre o primeiro e o segundo confinamento, as paróquias/comunidades estruturaram-se e capacitaram-se, assumindo-se como fonte privilegiada para obtenção dos conteúdos digitais por parte dos seus fiéis.

70% dos inquiridos revelaram assistir telematicamente à celebração da missa uma ou mais vezes por semana, sendo o YouTube a plataforma mais utilizada. A maioria dos inquiridos afirmou ainda assistir à celebração da missa em família, preservando assim o caráter coletivo e comunitário das práticas religiosas.

A importância das comunidades de pertença religiosa mantém-se durante a pandemia. As páginas das paróquias dos inquiridos ou das suas comunidades religiosas de pertença surgem como recursos procurados por um quinto dos inquiridos, ocupando o segundo lugar dos conteúdos digitais mais procurados, logo após os sites com conteúdos religiosos e espirituais de outras origens. Verifica-se uma variedade significativa de recursos digitais acedidos, com relevo para os vídeos, podcasts e aplicações para oração. Poder-se-á mesmo falar de uma multimedialidade espiritual.

Também na prática religiosa o cansaço pandémico se fez sentir, refletindo-se na menor assiduidade no segundo confinamento nas celebrações por via telemática e no facto de mais inquiridos revelarem assistir com maior frequência sozinhos a estas celebrações. Registou-se também uma menor procura de conteúdos online, sobretudo de aplicações para oração. Há anos inquiridos a perceção de uma experiência menos intensa no segundo confinamento.

Apesar de ter aumentado o recurso a meios digitais por força da pandemia, a percentagem de pessoas que manifestam intenção de continuar a utilizá-los é consistente com a percentagem de pessoas que já assumiam essa utilização anteriormente. Existe, inclusivamente, um decréscimo da vontade expressa de manter a experiência religiosa digital entre os 15 e os 24 anos. A pandemia levou a que pessoas que não utilizam recursos digitais passassem a contar utilizá-los no futuro e, por outro lado, levou a que pessoas que se serviam dessas ferramentas considerem descontinuar essa utilização.

Estes são alguns dos resultados obtidos a partir de um inquérito realizado entre junho e julho de 2021 a católicos/as maiores de 15 anos. A amostra é composta por 1099 inquiridos de todas as regiões de Portugal, com especial incidência de residentes nas regiões Norte, Centro e Lisboa.

Para mais informações, pode consultar o working paper do estudo em: https://apps.uc.pt/mypage/files/uc7101/2305
e/ou contactar as autoras:

Clara Almeida Santos

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, CEIS20 - Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra
Email: clara.santos@uc.pt
Tel.: 966061722

Margarida Franca

Instituto Politécnico de Leiria, CITER - Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião da Universidade Católica Portuguesa
Email: margarida.franca@ipleiria.pt

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