O ensino do português no mundo

Sessão 4 - "O ensino da língua e da literatura" no âmbito do Congresso de Língua Portuguesa: uma língua de futuro

03 dezembro, 2015≈ 4 mins de leitura

© UC | Karine Paniza

Quando se aprende uma língua estrangeira, há muitas características da cultura que acabam por escapar na retextualização de autores que são estudados. O projecto “Literatura no Ensino do Português como Língua Estrangeira” (LEPLE), apresentado na sessão 4 do Congresso de Língua Portuguesa, trouxe sugestões de alternativas para o ensino de português, nível A1 do Quadro Europeu de Referência.
Utilizando autores do cânone escolar, no caso, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), as autoras do estudo presentes, Ana Maria Machado e Anabela Fernandes, sugerem não apenas uma retextualização simplificada mas “acrescentando um resumo simplificado”. Isto porque os textos possuem ” um aspecto ficcional, que é o enredo, e um aspecto temático, e com a retextualização só se consegue responder à primeira”. Já o resumo simplificado, com excertos das obras, é possível, de acordo com as autoras, responder a todas as questões “em melhores condições”.

Ainda durante a sessão, Caroline Becker apresentou “um convite ao questionamento” sobre a literatura obrigatória no ensino no Brasil. A comunicação: “Da representação dos portugueses: o caso da leitura obrigatória no Rio Grande do Sul” a conferencista referiu que parte da lista de leituras obrigatórias no exame do vestibular, nos últimos dez anos contou com alguns autores portugueses. As obras selecionadas (de Luís Vaz de Camões, Pe. António Vieira, Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Lídia Jorge e José Saramago) “engendram uma representação de Portugal e da literatura em Portugal”, considera Caroline Becker. Devido à importância da representação que chega ao aluno brasileiro, a autora afirma que, ” por meio das obras selecionadas”, o aluno “pode conhecer o género épico, facetas históricas, traçar comparações com o realismo brasileiro e percebe os elementos culturais e o panorama cultural português”.

Da literatura as comunicações passaram para a situação d’ A reapropriação da linguagem da primeira geração de emigrantes por jovens luso-descendentes: o caso de C ça ksé bon!”. Isabelle Marques falou sobre a expressão franco-portuguesa como “um desafio” Os luso-descendentes em França “extraíram o discurso do seu contexto original e adaptaram-no”. De acordo com a conferencista, “a expressão ajudou a construir um novo tipo de comunidade portuguesa”. Isabelle Marques falou ainda que “nas políticas de identidade numa França contemporânea e ideologicamente monolingue, os portugueses são raramente mencionados”. Por isso, “os luso-descendentes têm tentado criar uma imagem dos portugueses em França”. Ao estarem “familiarizados com o falar híbrido dos seus pais”, pegaram numa expressão que evoca um “emigrante não moderno, de pais luso-descendentes, uma imagem saudosista da autenticidade e ruralidade portuguesas” e retextualizaram-na “de forma jovem e moderna”.

Para terminar a sessão, falou-se n””O papel das interlínguas românicas no ensino da língua”. A comunicação apresentada por Monica Lupetti e Matteo Migliorelli mostrou que ” não e correto julgar negativamente a influência da língua materna nem da L2 (segunda língua) quando se estuda a L3 (terceira língua)”.
O estudo apresentado tratou os diversos graus de afinidade e de interferências entre as línguas românicas do sul (francês, espanhol, italiano e português). Foram estudados, nomeadamente, estrudnates italianos com o espanhol como L2 que têm no português a L3.

Partilhe