Comunicar ciência, o lugar da voz do autor e a possibilidade de internacionalizar em português

A oitava sessão paralela do Congresso Internacional Língua Portuguesa: Uma Língua de Futuro aconteceu na Sala B do Convento de São Francisco.

03 dezembro, 2015≈ 4 mins de leitura

© UC | Milene Santos

Quatro comunicações: quatro propostas de natureza muito diversa para pensar a língua, o seu lugar e modos de utilização.

Adalberto Fernandes, comunicador de ciência no CNC (Centro de Neurociências e Biologia Celular), falou sobre a “A Tradução Dupla da Comunicação de Ciência”. As “ciências possuem uma linguagem científica” a que os “não cientistas” não têm acesso. É desse desencontro que surge a necessidade da “tradução” – uma tradução “dupla” porque não se reporta apenas ao trânsito entre idiomas diferentes, mas à clarificação de sentidos dentro de um mesmo sistema linguístico. A linguagem científica tenta “travar a polissemia” em favor da “definição”. No entanto, ela não deixa de ser atingida pelos fenómenos que afetam as palavras noutros domínios de utilização da linguagem – “a comunicação científica” não é “imune à história da língua”. O desafio é, em suma, perceber como tornar matérias científicas complexas acessíveis a um público alargado – sem simplificar demasiado nem trair o sentido inicial do enunciado.

Adelaide Chichorro, professora de linguística da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, desafiou a plateia com uma proposta de interpretação difícil: “De vigário para parto o caminho não é longo? Uma reflexão etimológico-crítica sobre as questões da natalidade e da paridade”. A oradora lançou linhas de reflexão sobre o modo como diferentes línguas expressam a mesma realidade. Num exercício comparativo entre o português e o alemão, Adelaide Chichorro discorreu sobre nascimento, maternidade, período pós-parto – e o papel do feminino em todos eles. Concluiu que, em certa medida, “a invisibilidade da mulher está na língua portuguesa de forma mais acentuada do que no alemão” .

“Parâmetros de género e voz autoral nas teses de doutoramento da Universidade de Coimbra (2003-2012)”, apresentado por Joana Vieira Santos e Paulo Nunes da Silva, mostrou as conclusões de um projeto que estudou a presença de uma “voz de autor” em certas modalidades do discurso académico. A análise de um corpus de teses produzidas em várias faculdades mostrou como a “vertente individual” do discurso é condicionada pela rigidez dos parâmetros dos géneros académicos. Com frequência, o autor é forçado a assumir uma “identidade condicionada” para poder ser “membro da tribo”. A “adesão ao inglês” – concluiu-se – é menos significativa na área das humanidades. Questionou-se até que ponto a “internacionalização” é compatível com a utilização do português na produção académica.

A terminar, Mário Mesquita falou sobre “O valor do conhecimento da língua perante as novas formas de pensar e de criar no ensino superior artístico, hoje”. O professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto problematizou a questão dos “nativos digitais” – e o modo como as transformações da relação com os meios está a mudar os contextos de ensino e aprendizagem.

No final, as interpelações do público permitiram aos oradores aprofundar alguns aspetos das intervenções.

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