A Língua como veículo de divulgação de ciência

Na manhã do segundo dia do Congresso Internacional de Língua Portuguesa: uma Língua de futuro “A Língua Portuguesa como língua de conhecimento científico” foi o tema de umas das conferências.

03 dezembro, 2015≈ 4 mins de leitura

© UC | Karine Paniza

Daniel Cruz, estudante de mestrado em Língua Portuguesa na Universidade de Coimbra, deu início à 5ªsessão do Congresso de Língua Portuguesa através da reflexão “A literatura de viagens sob o prisma da linguagem científica”. Através da análise de várias obras portuguesas, como José Saramago, Daniel Cruz afirma que “se antes a descoberta se fazia pela abertura do distante, agora, através dos relatos, a descoberta interioriza-se na própria terra com o próprio sujeito que a relata”. O palestrante conclui a sua abordagem revelando que “a partir da busca do ato das viagens portuguesas se procura mostrar os entrelaçamentos entre o discurso produzido e o discurso literário.”

Apesar de imprevista, Marisa Henriques apresentou, de uma forma diferente, a comunicação “Português: uma língua de palavras aladas ou de estatura filosófica”. A oradora começou por distribuir pela audiência um conjunto de poemas que, de acordo com Marisa Henriques, ajudam na diferenciação entre o português como língua poética e o português como língua filosófica. “Gil Vicente, enquanto iluminador dos serões do passo, e Camões, como fonte de renovação da língua e de uma literatura inteira,” foram exemplos utilizados por Marisa Henriques. A Língua Portuguesa contém em si as competências linguísticas necessárias para se assumir como língua filosófica, considera a interveniente. Isto, independentemente do público que a lê e os meios que a distribuem. “Não desconfiemos da nossa língua porque o nosso Homem faz a língua e não a língua os Homens”, finalizou.

Partindo do estudo de Domenico Vandelli, um naturalista italiano muito importante para o desenvolvimento da história natural em Portugal, Rui Pereira analisou “A importância da língua portuguesa no desenvolvimento da ciência: o caso da botânica”. No séc. XVI os estudos de botânica aparecem escritos em latim ligados à medicina. O português assume-se definitivamente como língua de ciência e ao serviço de transcrição de conhecimento cientifico a partir do séc. XVIII, explicou o orador. “O latim não é a única língua da ciência” sublinhou Rui Pereira através de Lineu.

A sessão continuou com a comunicação “Estudantes universitários e o uso de dicionários monolingues de português”. “Uma palavra pode ter vários significados, consoante a abordagem. É necessário implantar esses significados vários nos dicionários de Língua Portuguesa” revelou Tanara Khun. Durante a sua intervenção, a autora fez uma reflexão sobre o seu propósito de doutoramento que incide na criação de um dicionário de Língua Portuguesa aplicada como língua materna, como língua adicional e com variantes de Português do Brasil e Português Europeu. Tanara Khun explicou o “desenho de pesquisa” como forma de albergar neste dicionário características específicas das diversas variantes da Língua Portuguesa bem como corresponder os significados às respetivas áreas de domínio.

A Língua como conhecimento científico foi um tema que, para vários participantes é “pouco explorado, mas com muito por descobrir”.

 

Reportagem realizada por Eva Oliveira, estudante da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

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