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Teste de Memória de Ligação (TML)

Versão portuguesa

Maria Salomé Pinho e Isabela Barbosa

Versão original

Buschke H. (1984). Cued recall in amnesia. Journal of Clinical Neuropsychology, 6(4), 433–440. https://doi.org/10.1080/01688638408401233

Buschke, H. (2014). Rationale of the Memory Binding Test. In L. Nilsson, & N. Ohta (Eds.), Dementia and memory (pp. 55-71). Psychology Press.

Enquadramento teórico

Testes como o TRSLG (Teste Recordação Selectiva Livre e Guiada) e o TML, ambos concebidos por H. Buschke, estão fundamentados em conhecimento desenvolvido no âmbito da psicologia cognitiva experimental da memória, designadamente o princípio da codificação específica de Tulving e Thomson (1973). Segundo este princípio, a recuperação da informação depende do grau de sobreposição entre as características do contexto de recuperação e aquelas que estiveram presentes quando se formou o traço mnésico. Apesar da codificação ser um processo mnésico em que frequentemente as pessoas idosas apresentam dificuldades, que prejudicam o seu desempenho, este processo raramente é submetido a controlo nos testes de avaliação da memória.

Para diferenciar o declínio normativo daquele que constitui o início de uma patologia do tipo demência, Buschke (2014) privilegiou o TML, uma vez que este teste permitiria detectar falhas de memória episódica, mesmo em perfis de resultados considerados normais no envelhecimento. Entre as principais características distintivas do TML encontram-se a utilização da mesma pista quer na codificação, quer na evocação de cada palavra da lista de aprendizagem (codificação específica e controlada; esta característica é comum ao TRSLG), a avaliação da interferência e da memória de ligação (binding). Assim, o TML, diferentemente do TRSLG, envolve ainda a aprendizagem de itens com duas palavras associadas à mesma pista categorial semântica (Buschke et al., 2017). O défice na memória episódica de ligação, o qual constitui uma característica do declínio mnésico em adultos idosos, é considerado um indicador de prejuízo pré-sintomático da memória (Curiel, Raffo, & Loewenstein, 2019). Também a interferência afecta particularmente o desempenho mnésico das pessoas idosas (Loewenstein et al., 2017).

O TML visa contribuir para o rigor na detecção precoce do défice mnésico do tipo hipocampal (e.g., Markova et al., 2023).

Descrição

Domínio de avaliação: Memória verbal e memória verbal de ligação.

Tipo de instrumento: Teste de memória verbal (listas de palavras).

Número de itens: Duas listas de 16 palavras cada e 16 pistas categoriais para cada lista. Administração: Individual, 6 minutos (mais 30 minutos de intervalo de retenção para a evocação diferida).

População: Pessoas idosas.

Dimensões

O TML permite avaliar a evocação guiada, memória de ligação e interferência semântica.

Estudos

Barbosa, I. (2018). Memory Bindind Test: Estudo comparativo entre o desempenho de jovens adultos e adultos idosos. [Dissertação de Mestrado Integrado, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra]. Estudo Geral. https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/85401/1/disserta%C3%A7%C3%A3o%20Isabela%20Barbosa%202018.pdf

Investigações futuras

Estudos de validação com diferentes populações (e.g., pessoas idosas sem défice neurocognitivo não normativo, pessoas com perturbação neurocognitiva ligeira, e perturbação neurocognitiva major ou ligeira devida a doença de Alzheimer) e obtenção de normas do TML para a população idosa portuguesa.

Contactos

Maria Salomé Pinho (salome@fpce.uc.pt).

Referências bibliográficas

  1. Buschke H. (1984). Cued recall in amnesia. Journal of Clinical Neuropsychology, 6(4), 433–440. https://doi.org/10.1080/01688638408401233
  2. Buschke, H. (2014). Rationale of the Memory Binding Test. In L. Nilsson, & N. Ohta (Eds.), Dementia and memory (pp. 55-71). Psychology Press.
  3. Buschke, H., Mowrey, W. B., Ramratan, W. S., Zimmerman, M. E., Loewenstein, D. A., Katz, M. J., & Lipton, R. B. (2017). Memory Binding Test distinguishes amnestic mild cognitive impairment and dementia from cognitively normal elderly. Archives of Clinical Neuropsychology: The Official Journal of the National Academy of Neuropsychologists, 32(8), 1037–1038. https://doi.org/10.1093/arclin/acx046
  4. Curiel, R. E., Raffo, A., & Loewenstein, D. A. (2019). Assessment of Alzheimer’s disease. In L. D. Ravdin, & H. L. Katzen (Eds.), Handbook on the neuropsychology of aging and dementia (2nd edition, pp. 464-478). Springer.
  5. Loewenstein, D. A., Curiel, R. E., Wright, C., Sun, X., Alperin, N., Crocco, E., Czaja, S. J., Raffo, A., Penate, A., Melo, J., Capp, K., Gamez, M., & Duara, R. (2017). Recovery from proactive semantic interference in mild cognitive impairment and normal aging: Relationship to atrophy in brain regions vulnerable to Alzheimer's disease. Journal of Alzheimers’ Disease, 59(1), 1119-1126. https://doi.org/10.3233/JAD-170276
  6. Markova, H., Fendrych Mazancova, A., Jester, D. J., Cechova, K., Matuskova, V., Nikolai, T., Nedelska, Z., Uller, M., Andel, R., Laczó, J., Hort, J., & Vyhnalek, M. (2023). Memory Binding Test and its associations with hippocampal volume across the cognitive continuum preceding dementia. Assessment, 30(3), 856–872. https://doi.org/10.1177/10731911211069676
  7. Tulving, E., & Thomson, D. M. (1973). Encoding specificity and retrieval processes in episodic memory. Psychological Review, 80(5), 352-373. https://doi.org/10.1037/h0020071