Investigação
Tópicos
Enquanto área clínica e de investigação, a saúde mental perinatal debruça-se sobre a saúde mental da mulher desde a concepção até ao fim do primeiro ano após o parto. Há mais de dez anos que esta área tem sido uma das mais produtivas do SPM, tanto ao nível de resultados como de produtos. No âmbito de projeto de investigação intitulado "Depressão pós-parto e Sono” desenvolvemos metodologias válidas para o rastreio da depressão perinatal e analisámos o papel de diversas variáveis (socio-demográficas, obstétricas, clínicas, da personalidade, do sono, do bebé, entre outras) enquanto correlatos e factores de risco para a depressão e ansiedade perinatais.
Actualmente, estamos a desenvolver um novo projecto nesta linha – “Rastreio, prevenção e intervenção precoce na depressão perinatal nos cuidados de saúde primários”. O financiamento que obtivemos, dos EEA-Grants, permite-nos efetuar a translação entre o conhecimento adquirido na última década e a minimização do elevado impacto negativo da depressão perinatal. Estamos a estudar o poder preditivo de um novo instrumento de rastreio e prevenção que inclui os sintomas e fatores de risco que identificámos como sendo os mais válidos e consistentes nas mulheres portuguesas, nomeadamente: episódios depressivos prévios, insónia pré-natal e afecto negativo pré-natal.
Temos também em curso um ensaio clínico para testar a eficácia de um programa de prevenção/intervenção precoce do/no stresse perinatal, com sessões de psicoeducação e psicoterapia baseadas na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e nas Terapias de Terceira Geração.
O sono é uma das áreas de maior interesse no IPM e a equipa tem desenvolvido vários trabalhos sobre a associação entre o sono e diferentes processos cognitivos e emocionais. Assim, no âmbito do projecto Perfectionism and Obsessive-Compulsive Spectrum Disorders, ficou largamente demonstrado o papel do perfecionismo como preditor do sono (nomeadamente de sintomas de insónia) em amostras de estudantes universitários. Ao longo dos anos, na sequência destes resultados, a equipa tem orientado vários trabalhos de mestrado, realizados por alunos da FMUC, que continuam a aprofundar a associação entre o sono (insónia, ativação pré-sono, entre outras variáveis de sono) e traços e processos cognitivos como o perfeccionismo e o pensamento repetitivo negativo. O projecto Postpartum Depression and Sleep, que conduziu à publicação de dezenas de trabalhos no IPM, permitiu explorar, ainda, associações entre o sono (nomeadamente através da avaliação da insónia e de outras variáveis relativas ao sono, como o cronótipo) e diferentes processos cognitivos e emocionais, numa amostra no período perinatal. Ficou particularmente demonstrado o papel da insónia como fator de risco para a depressão no pós-parto, com o afeto negativo a mediar esta associação, resultado inovador para o período em questão (perinatal). No projecto Infants temperament and psychological distress foi abordado o papel do sono do bebé, bem como do seu temperamento, para o estado emocional das mães no pós-parto.
O Suicídio e outros comportamentos suicidários são grandes problemas de saúde pública: o suicídio está entre as 10 maiores caudas de morte no mundo. A suicidalidade prévia, particularmente as tentativas de suicídio, e a perturbação psicológica/psiquiátrica são fatores consistentes no aumento do risco de suicídio e de outros comportamentos suicidários. No entanto, estes não explicam todo o risco do suicídio e outros fatores poderão estar também envolvidos. Apesar da literatura sobre a epidemiologia e os fatores de risco da suicidalidade ser abundante, existem várias lacunas no nosso conhecimento sobre a prevalência e a incidência da ideação suicida e das tentativas de suicídio na população portuguesa e sobre quais os correlatos e fatores de risco da suicidalidade são particularmente importantes em populações específicas, como, por exemplo, nas mulheres do período perinatal.
Um objetivo desta área de estudo é caraterizar os comportamentos suicidários e analisar as taxas da ideação e dos comportamentos suicidários, em determinados grupos da população portuguesa, como, por exemplo, nos estudantes, nas mulheres que se encontram no período perinatal, nas imigrantes e nos doentes nas pessoas com doença mental. Um outro objetivo desta área de estudos é explorar os correlatos e os fatores de risco distais e proximais da suicidalidade, incluindo os fatores demográficos (e.g., género, idade), culturais e socioeconómicos (e.g., desemprego, imigração), os fatores psicológicos (e.g., traços de personalidade, como o perfeccionismo) e os fatores psiquiátricos (e.g., suicidalidade prévia, doença mental), em amostras da população geral e em amostras clínicas. Os resultados destes estudos poderão refletir-se no desenvolvimento de estratégias de prevenção do suicídio.
Uma das áreas de expertise do IPM é na adaptação, validação e desenvolvimento de instrumentos a ser usados na investigação psiquiátrica, com múltiplos fins. Alguns desses instrumentos têm um propósito diagnóstico para uso na investigação epidemiológica e biológica, em psiquiatria, como é o caso da Entrevista Diagnóstica para Estudos Genéticos e a EP-GENE (Entrevista Psiquiátrica para Estudos Genéticos). Outros, como a Clinical Interview for Psychotic Disorders serve para medir mudanças consequentes a intervenções terapêuticas que podem ser da natureza psicoterapêutica ou farmacológica. É uma entrevista inovadora que já inclui as definições DSM-5 para as perturbações afectivas e psicóticas e vai para além da tradicional avaliação da frequência/gravidade, focando-se também sobre a interferência no funcionamento e na relação que os doentes têm com os sintomas. Também já desenvolvida de acordo com os critérios de diagnóstico do DSM-5 e também já com evidências de validade e utilidade, tanto para contextos clínicos como de investigação, temos a DIPD – Diagnostic Interview for Psychological Distress. Inicialmente desenvolvida para servir os interesses da nossa linha de investigação sobre a saúde mental perinatal, dispomos também de uma versão que permite a avaliação dos sintomas e dos critérios de diagnóstico com qualquer tipo de amostra e em diferentes períodos de vida. Quanto ao conteúdo e estrutura, a DIPD avalia: Perturbação Depressiva Major, Comportamento Suicidário, algumas Perturbações de Ansiedade (i.e. Perturbação de Pânico, Agorafobia, Ansiedade Social, Perturbação de Ansiedade Generalizada), as Perturbações relacionadas com Trauma e Factores de Stresse e a Perturbação Obsessivo-Compulsiva.
Para além do desenvolvimento de instrumentos, a equipa do SPM tem também desenvolvido inovações na área das metodologias diagnósticas como é o caso da utilização de um método de consenso diagnóstico baseado no sistema OPCRIT e que constitui uma alternativa aos métodos clássicos de best-estimate diagnosis.
No âmbito dos diversos projectos de investigação que temos levado a cabo ao longo dos anos, tem surgido a necessidade de desenvolver (e/ou traduzir e adaptar), diversos instrumentos de avaliação psicológica, principalmente questionários de auto-resposta, para a avaliação de traços, processos (cognitivos e meta-cognitivos), atitudes e sintomas. Para isso, recorremos às mais rigorosas e recomendadas metodologias qualitativas e quantitativas (e a diversas ferramentas informáticas) para a análise das suas propriedades psicométricas e operativas, em amostras clínicas e da comunidade.
Este tipo de estudos têm-se focado sobre a investigação das características e do papel dos traços subclínicos, como é o caso das facetas negativas do traço perfeccionismo e da relação que têm com a psicopatologia. Os nossos estudos evidenciaram uma associação entre o perfeccionismo mal adaptativo e diversos sintomas e condições clínicas, que não apenas de doença mental. Evidenciámos que esta natureza transdiagnóstica do perfeccionismo estava relacionada com processos cognitivos como o pensamento repetitivo negativo (PRN), e metacognitivos. Está também a ser desenvolvida investigação para estudar os aspectos desenvolvimentais do perfeccionismo, isto é, estudar o papel que o perfeccionismo parental e os determinantes cognitivos dos pais têm no desenvolvimento do perfeccionismo, nos filhos.
Seguindo a tendência actual de privilegiar a combinação de traços e as suas vias de influência nas trajetórias de (des)regulação, temos analisado também a interação do perfeccionismo com outros traços de personalidade, como optimismo, pessimismo defensivo, e, mais recentemente, traços associados à chamada “personalidade sombria” (Narcissismo, Maquiavelismo e Psicopatia).
A nossa perícia neste tópico tem levado a que grupos de outros departamentos (de Engenharia Civil e de Engenharia Informática) da Universidade de Coimbra nos procurem para consultadoria.
Partindo do historial de investigação do IPM na área da personalidade e perturbação psicológica, alargámos o nosso interesse para outra linha de investigação, focada no papel destes processos em doenças somáticas nas quais nas quais se têm evidenciado como relevantes correlatos e factores de risco, por exemplo para a fibromialgia (FM). A FM constitui uma síndroma dolorosa crónica cuja etiologia e patogénese são mal conhecidas. No entanto, múltiplas evidências mostram que determinados traços de personalidade, como o neuroticismo e perfeccionismo, bem como stresse e perturbação emocional desempenham um papel nesta doença. Assim, o IPM tem contribuído, com os seus estudos nesta linha, para compreender os mecanismos de associação entre os fenómenos somáticos, como a dor e síndromes de sensibilização central, e os traços de personalidade e a desregulação emocional. Também aqui, certos processos cognitivos como o pensamento negativo repetitivo se revelam como mecanismos mediadores entre os fenómenos dolorosos e de incapacidade funcional e a perturbação psicológica.
A nossa equipa tem mais de 20 anos de experiência na área da genética psiquiátrica (doença bipolar e esquizofrenia), tendo estabelecido colaborações com vários consórcios internacionais, nomeadamente nos EUA em colaboração com o Genomic Psychiatry Cohort que conseguiu juntar uma amostra multicêntrica de vários milhares de doentes com psicose.
Estes estudos têm usado as mais recentes tecnologias de análise genómica em estudos de associação e sequenciação do genoma e detectado um conjunto de achados em termos de variações genéticas comuns (SNPs/haplotipos), mas também variações raras (CNVs).
Uma das principais áreas de expertise da nossa equipa é na análise fenótipica e desenvolvimento de estratégias e instrumentos para melhor esclarecimento das dimensões e subfenótipos envolvidos nas perturbações psicóticas. No contexto do Centro de Neurociências de Coimbra, estamos a expandir a investigação em biomarcadores para além da área da genómica, para incluir também dados de proteómica e metabolómica de modo a conseguir obter um modelo preditivo baseado num reduzido painel de biomarcadores com informação suficiente para ser usado no diagnóstico e prognóstico da esquizofrenia, sozinho ou em combinação com a entrevista clínica.
A ausência de marcadores biológicos clinicamente relevantes em Psiquiatria, ao contrário de outras especialidades médicas, torna a avaliação clínica um verdadeiro desafio já que apenas se baseia na observação de comportamentos e experiências subjetivas. Os avanços na neuroimagem estrutural e funcional, permitiram alcançar uma notável capacidade visualizar o cérebro. De modo relevante, diferentes técnicas de neuroimagem - PET, MRS, fMRI, DTI - podem fornecer informação sobre a integridade funcional e estrutural de circuitos cerebrais em indivíduos saudáveis e naqueles que sofrem de doença mental.
Desta forma, os métodos de neuroimagem têm potencial para serem utilizados não só na identificação de biomarcadores que refletem mecanismos de doença subjacente, mas também para ajudar a identificar marcadores que podem auxiliar no diagnóstico, na previsão do risco de desenvolvimento de uma de perturbação psiquiátrica e na predição da resposta ao tratamento. No Serviço de Psicologia Médica estamos interessados em utilizar técnicas de neuroimagem para investigar as bases neurobiológicas das perturbações mentais.
Com esse objetivo, estamos a desenvolver projetos de investigação em parceria com o Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS), cuja experiência em investigação com neuroimagem é reconhecida. O nosso objetivo global é identificar potenciais biomarcadores que permitam a predição diagnóstica e resposta ao tratamento durante as fases precoces das perturbações psiquiátricas, nomeadamente durante os estágios iniciais da Esquizofrenia e da Perturbação Bipolar.
No Instituto de Psicologia Médica privilegiamos a investigação dos tópicos que também leccionamos. Um dos que é transversal a todas as nossas unidades curriculares é a relação médico-doente, a comunicação clínica e o comportamento de doença e de procura de ajuda, na perspectiva de uma prática médica centrada no doente. Assim, neste contexto adaptámos vários instrumentos que nos permitem aprofundar o conhecimento nesses temas. É o caso da Escala de Percepção de Prática Centrada no Doente-16, que adaptámos e validámos, para estudar a sua relação com outcomes e processos fundamentais da relação médico-doente, como são a adesão à terapeutica, a satisfação e percepção de saúde. Também desenvolvemos a Escala de Comportamento de Procura de Ajuda e de Doença e adaptámos outros instrumentos que nos permitido investigar a relação entre algumas dimensões da personalidade e o comportamento de doença e de procura de ajuda.
Projectos
(Ref. Outras Àreas - Clinico #217)
PI: Ana Telma Pereira
Financiamento: SANTANDER-FMUC
- (Ref.: Neurociências - Clinico #174)
PI: António Macedo
Financiamento: SANTANDER-FMUC
- Projecto EEA-Grants (MFEEE 2009-2014) Ref. 161SM3
Investigador responsável: Ana Telma Pereira
Finaciamento: Programa Iniciativas de Saúde Pública
Área: Melhoria dos serviços de saúde mental
Sub-área: Melhoria da capacidade dos cuidados de saúde primários para a prevenção do suicídio e para prevenir, diagnosticar e tratar a depressão.
- Projecto COMPETE 2020 Nº 016850, da Autoridade de Gestão do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização, submetido no âmbito do Aviso de concurso nº 04/SAICT/2015
Investigador responsável: Ana Telma Pereira
Área: Ciências da Vida e da Saúde - Diagnóstico, Terapêutica e Saúde Pública - Investigação Clínica
Rating do painel de avaliação: 9
- Projecto COMPETE 2020 Nº xxxx, da Autoridade de Gestão do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização, submetido no âmbito do Aviso de concurso nº 04/SAICT/2015.
Investigador responsável: António Macedo
Rating do painel de avaliação: 9
Área: Neurociências, Envelhecimento e Doenças Degenerativas - Neurociências - Sistemas, Clínica e Comportamento
Investigador responsável: Professor Doutor António Macedo
Unidade de Investigação: Instituto de Psicologia Médica - FMUC
APROVADO PELA COMISSÃO DE ÉTICA FMUC – Ref. 098-CE-2014
Investigador responsável: Professor Doutor António Macedo
Unidade de Investigação: Instituto de Psicologia Médica - FMUC
APROVADO PELA COMISSÃO DE ÉTICA FMUC – Ref. 41-CE-2012
Investigadores responsáveis: Prof Doutor António João Ferreira de Macedo e Santos
Prof Doutor José António Pereira da Silva
Unidades de Investigação: Instituto de Psicologia Médica – FMUC e Clínica Universitária de Reumatologia, Hospitais da Universidade, CHUC-EPE
APROVADO PELA COMISSÃO DE ÉTICA FMUC – Ref. 40-CE-2012