O futuro do trabalho

No âmbito da iniciativa em Ponte de Lima "As Novas Conferências do Casino", a 19 de Outubro, o Prof. J. Norberto Pires irá realizar uma palestra associada à Inteligência Artificial no Novo Mundo Social, Cultural e Económico.

18 outubro, 2018≈ 5 mins de leitura

Futuro do Trabalho

Conferência com o Prof. J. Norberto Pires

Num relatório muito interessante do World Economic Forum, intitulado "The Future of Jobs Report 2018", verifica-se que, apesar de a perda de trabalhos tradicionais devido à robotização se intensificar até 2022 (75 milhões de empregos perdidos), novos empregos serão criados (133 milhões) o que permite um resultado líquido muito positivo (e muito otimista). No entanto, o esforço de reconversão será muito intenso e exigirá muito maior rapidez do que no passado.


Os quatro fatores de mudança principais serão a generalização da internet móvel de alta velocidade, a inteligência artificial, a adoção generalizada de análise de big data e a tecnologia da nuvem.


As conclusões deste relatório sugerem a necessidade de uma "estratégia de melhoria" abrangente, uma abordagem em que as empresas procuram utilizar a automação de algumas tarefas para complementar e aprimorar as suas capacidades competitivas, reforçando assim a capacidade instalada dos seus recursos humanos. Consequentemente, em vez de focar estritamente na redução de custos tendo por base a automação, uma estratégia de melhoria tem em linha de conta um horizonte mais amplo de atividades geradoras de valor que podem ser realizadas por trabalhadores humanos, os quais, libertados pela tecnologia da necessidade de executar tarefas repetitivas e pouco exigentes, podem focar a sua atenção e talento em tarefas que tirem mais partido das suas características humanas.


No entanto, para dar corpo a esta visão positiva da adoção de tecnologia, é necessário um esforço hercúleo de formação avançada dos recursos humanos, bem como mecanismos de aprendizagem ao longo da vida. A nova revolução industrial coloca o foco na formação e em conhecimentos científicos e técnicos mais aprofundados.


Por isso, criar um sistema sólido de aprendizagem ao longo da vida, investir em capital humano e numa estratégia integrada de desenvolvimento da força de trabalho deve ser um imperativo essencial para as empresas, para o seu crescimento a médio e longo prazo, bem como uma contribuição importante para a estabilidade e futuro da sociedade que pretendemos construir.


O futuro também exige uma nova atitude de todos os trabalhadores humanos: mais ágil nas aprendizagens e na capacidade de mudança, procurando adaptar-se a um mundo que muda mais rapidamente e exige tarefas cada vez mais complexas.


Finalmente, os formuladores de políticas públicas, os reguladores e os educadores têm aqui desafios renovados e críticos. Na verdade, é essencial que contribuam para o desenvolvimento de sistemas de ensino e formação ao longo da vida que sejam capazes de absorver aqueles que são apanhados no processo de mudança e os ajudem, de forma eficaz, a encontrar novas formas de se inserirem no mercado de trabalho, reforçando a sua formação e procurando novas tarefas para os quais precisam de outras aprendizagens e formas de pensar. A nova revolução industrial é muito exigente nesta capacidade ser ágil na mudança e nas aprendizagens.


Por fim, faz algum sentido que se veja em perspetiva o que há de novo nesta transformação que temos em curso. A digitalização a 100% e a capacidade de ligar em rede, mesmon os sistemas embebidos, tirando partido da internet de alta velocidade e da tecnologia da nuvem, são aspetos muito importantes, geradores de grandes transformações, mas não são, em si, coisas novas. No entanto, permitirão que as máquinas, com a adoção de inteligência artificial, sejam capazes de se reinventarem. Se a isso adicionarmos a capacidade de imprimir em 3D, com precisões elevadas, qualquer tipo de peça em qualquer tipo de material, incluindo o metal, isso significa que as máquinas serão capazes de se produzir a si próprias e, com tempo, de se redesenharem e produzirem novas máquinas. Ou seja, num futuro próximo, as máquinas, mais do que construírem outras máquinas, serão capazes de evoluir e fazer versões melhoradas, ou totalmente novas, de si próprias. E isso sim muda tudo.

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