UC alerta para riscos na autocombustão de resíduos mineiros

30 maio, 2023≈ 4 mins de leitura

Tal como publicado no Diário de Coimbra de 30 de maio de 2023, os resíduos mineiros de carvão em autocombustão têm impacto negativo para o meio ambiente, concluiu uma investigação da Universidade de Coimbra, divulgada ontem.
O estudo foi realizado pelo Departamento de Ciências da Terra (DCT) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
Os investigadores explicaram que os resíduos mineiros de carvão em autocombustão têm impacte negativo no ambiente devido à produção de drenagem ácida que, como resultado, pode afetar os solos e os ecossistemas
da área envolvente, informou a UC em comunicado.
O trabalho sobre os resíduos mineiros em autocombustão em Portugal, iniciado em 2007, além de incidir sobre a identificação de autocombustão de resíduos mineiros resultantes da exploração de carvão no passado,
visa identificar e compreender os impactes desse processo no ambiente, particularmente nos solos, nas águas e na atmosfera.
De acordo com Joana Ribeiro, professora do DCT e autora do estudo, o impacte mais significativo pode estar relacionado com as emissões de compostos orgânicos voláteis durante a combustão.
«Foram detetadas substâncias,nomeadamente hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e outros compostos orgânicos, que são emitidas para a atmosfera e que são prejudiciais para a saúde humana. Esta situação
pode ser particularmente preocupante quando as escombreiras em autocombustão se encontram perto de áreas habitadas», revelou.
De acordo com a investigadora, em Portugal são conhecidos três casos de escombreiras de resíduos mineiros de carvão cuja ignição começou em 2005, devido a incêndios florestais.
Uma dessas escombreiras, em São Pedro da Cova, Gondomar, permanece em autocombustão há quase duas décadas, sendo uma fonte de contaminação para a atmosfera devido à emissão de compostos orgânicos voláteis
que resultam da combustão do carvão, e ainda para o meio envolvente, por causa da drenagem ácida.
Em 2017, outras duas escombreiras entraram em combustão, pelo mesmo motivo, mas nestes casos a Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM) implementou um projeto de reabilitação que permitiu a extinção da combustão.
«Há sempre formas de resolver situações como a da escombreira de São Pedro da Cova, no entanto, são dispendiosas e complexas», assegurou Joana Ribeiro, acrescentando que existem soluções, como a que foi aplicada pela EDM que inclui a remobilização do material do local, arrefecimento com água e um agente retardador da temperatura, recolocação e compactação no local. «Essa compactação é fundamental uma vez que faz com o acesso e a circulação do oxigénio no interior da escombreira, que alimenta o processo de combustão, seja limitado», explicou.
Para a cientista, este é um processo que acontece em todo o mundo e que tem não só impacte ambiental e na saúde, mas também a nível económico, visto que pode ocorrer numa mina de carvão e nas camadas de carvão propriamente ditas, alterando e inviabilizando o recurso geológico.

Por isso, é muito importante fazer uma inventariação das escombreiras de carvão que existem em Portugal, das respetivas características e condições de deposição, assim como da situação em relação ao enquadramento em zonas florestais. Desta forma, o risco de ignição e consequente autocombustão de escombreiras de carvão poderia ser minimizado através da gestão florestal e territorial adequada, considerou Joana Ribeiro.
D.R. (30/05/2023)

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