/ Como se Desenha uma Investigação

À procura de novas pistas para entender o efeito da perda do Amieiro nos ecossistemas ribeirinhos

A chegada de Guilherme Barreto ao mestrado em Ecologia da Universidade de Coimbra (UC) deu-se graças à curiosidade que os sistemas aquáticos foram despertando no estudante do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (DCV/FCTUC) ao longo da licenciatura em Biologia. Atualmente, está a desenvolver a dissertação de mestrado Como a presença/ausência de Amieiro (Alnus glutinosa) afeta as características foliares de espécies não fixadoras de azoto e a sua decomposição em ribeiros, orientada pela investigadora do DCV/FCTUC, Verónica Ferreira. Com a experiência que tem em curso no laboratório, quer perceber os efeitos indiretos da perda de espécies nativas fixadoras de azoto no funcionamento dos ecossistemas ribeirinhos, através das alterações nas características das folhas das espécies nativas. Com este projeto, procura, igualmente, sublinhar a importância de estudar os ribeiros, fundamentais na ligação entre os ecossistemas marinhos e terrestres.

Qual é o objetivo do teu projeto de investigação?

O meu projeto tem como objetivo principal perceber como é que o Amieiro – uma árvore fixadora de azoto junto aos rios – altera as características das folhas de três espécies não fixadoras de azoto – o Carvalho, o Castanheiro e a Faia, espécies que são comuns nas florestas nativas das regiões Centro e Norte de Portugal.

Que contributo pretende trazer?

Este projeto vai ajudar-nos a perceber que efeitos é que o Amieiro tem na folhada de espécies não fixadoras de azoto, sendo estas últimas a maioria das espécies de árvores nativas em Portugal. Vai ainda ajudar a perceber como é que esses efeitos se podem repercutir num processo fundamental dos ribeiros – a decomposição de folhada. A compreensão desta relação é fundamental, uma vez que as populações de Amieiro estão a ser ameaçadas por infeção provocada por um microrganismo patogénico, que causa grande mortalidade.

E como surge a ideia de trabalhar este tema na dissertação de mestrado?

Quando entramos no mestrado em Ecologia, são propostos vários temas para trabalhar. Depois de analisar os vários temas, e de falar com a minha orientadora, a Verónica Ferreira, achei que este seria o mais interessante. Desde a licenciatura, sempre tive interesse pelos ecossistemas de ribeiros – depois de frequentar a unidade curricular Ecologia Química em Sistemas Aquáticos – e foi isso que me levou a escolher o tema e a aprofundar o conhecimento nesta área.

Como tem sido feita a pesquisa?

Começámos por determinar vários parâmetros físicos e químicos da folhada das espécies que estamos a estudar. Usámos diferentes protocolos padronizados para determinar a dureza das folhas, as concentrações de nutrientes – nomeadamente azoto, carbono e fósforo – e as concentrações de compostos de defesa, como os fenóis, e compostos estruturais que conferem dureza, como a lignina. Esta primeira etapa foi muito importante para perceber as diferenças existentes nas características das folhas das espécies não fixadoras de azoto quando estão na presença ou ausência do Amieiro.

Neste momento, estamos a realizar uma experiência de microcosmos, em que estamos a simular em frascos as condições de um ribeiro em meio laboratorial, para determinar a colonização da folhada proveniente das várias espécies não fixadoras de azoto, quando cultivadas na presença (mistura) e ausência (monocultura) do Amieiro, por decompositores microbianos, como fungos e bactérias, e a velocidade a que se decompõem ao longo de várias semanas.

Já temos alguns resultados, uns esperados e outros inesperados.

Quais têm sido os maiores desafios do projeto de investigação?

Acho que é importante estarmos mentalizados que fazer um projeto nesta área não é fácil. Vai ser preciso trabalhar muitas horas – ler muito e fazer muitas experiências práticas. E, para que isso seja possível, precisamos de ser organizados para dar resposta a tudo e cumprir prazos.

Os primeiros passos no mundo da investigação são, talvez e para a maioria das pessoas, os que damos quando frequentamos um mestrado, o que torna esta experiência bastante interessante e desafiante. Em todo o caminho, conto sempre com o apoio da minha orientadora, o que me permite aprender e perceber como se faz investigação na minha área.

Como é que a possibilidade de fazer um mestrado surgiu no teu caminho?

Sempre tive em mente que gostaria de fazer um mestrado depois da licenciatura. Durante a licenciatura em Biologia na Universidade de Coimbra, percebi que me interessava mais pela área da Ecologia. Acabei por me candidatar ao mestrado nesta área, porque já tinha contactado com vários professores e sabia que a qualidade do ensino era boa. E cá estou.

E a seguir ao mestrado, gostavas de continuar a fazer investigação?

Não vou deixar de lado a ideia de seguir uma carreira académica, que me permita fazer investigação. Vamos ver as oportunidades que vão surgir. Se isso acontecer, ótimo. Se não acontecer, procurarei outras opções.

Gostarias de partilhar algumas dicas com estudantes que estão também a desenvolver um projeto de mestrado?

Para quem pretende começar o seu projeto de mestrado, a melhor dica que posso dar é que procurem um tema que seja interessante. Encontrem algo em que gostavam mesmo de trabalhar. Isto é muito importante para que não encarem o vosso projeto como uma tarefa chata, mas sim como um desafio que querem superar.

Se possível, voluntariem-se para aprender nos laboratórios, candidatem-se a estágios. E se durante a vossa licenciatura tiverem a oportunidade participarem num projeto de investigação aproveitem.

Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro, DCOM e Inês Coelho, DCOM

Fotografia: Karine Paniza, DCOM

Edição de Imagem: Sara Baptista, NMAR

Publicado a 30.11.2023