Seychelles: 10 Anos a Estudar Aves Marinhas no Paraíso

JR

Jaime A. Ramos

A possibilidade de visitar as Seychelles para estudar a ecologia de aves marinhas surgiu em 1995, quando residia na ilha do Faial, Açores, onde estudava a ecologia de aves marinhas no arquipélago no âmbito de um projeto do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores.

Uma das espécies alvo desse projeto era o Garajau-rosado (Sterna dougallii). Cedo constatei que as maiores populações desta espécie se encontravam em zonas tropicais, sendo o arquipélago das Seychelles um desses locais.

A preparação da viagem quase rondou as viagens filosóficas de Vandelli. A maior população desta espécie nas Seychelles situava-se em Aride, uma ilha remota, que tinha sido adquirida nos anos setenta por Cristopher Cadbury, e que era agora em 1997 gerida por uma associação inglesa como uma Reserva Natural. Após ler um pouco mais sobre a ilha constatei que, no total, albergava cerca de um milhão de aves marinhas de várias espécies, que se reproduziam em diferentes alturas do ano. Daí até contactar o Dr. James Cadbury, filho de Cristopher Cadbury, foi um passo que me abriu 10 anos de viagens ao paraíso.

Todos os anos, em junho, era tempo de fazer malas e partir para Mahé, a ilha principal do arquipélago, onde após um voo doméstico de 30 minutos e uma viagem de barco de 1 hora desembarcava num praia pristina e com areia branca de coral. Todos os anos permanecia entre 30 a 60 dias na ilha com uma rotina bem marcada: levantar às 6 h, caminhar 30 minutos até à colónia de Garajau-rosado, marcar ninhos, pesar e anilhar crias e assim desvendar as interações ecológicas desta espécie com os mares tropicais.

Pouco a pouco fui alargando os trabalhos a outras espécies de aves marinhas e trazendo outros investigadores até Aride, tendo três deles efetuado o seu doutoramento com dados aí recolhidos. Esta série de viagens culminou em 2009, com uma visita à ilha de D’Arros e ao atol de St. Joseph.

Neste local localizamos uma colónia de Garajau-rosado e aí permanecemos vinte dias a estudar a dieta e a ecologia alimentar desta espécie. Para chegar à colónia, apenas na maré vazia, era preciso caminhar em águas pouco profundas, transparentes e povoadas de raias a descansar.

O voo de regresso a Mahé no pequeno avião da Air Seychelles sobrevoou todo o atol de St. Joseph. A beleza do atol e do mar juntavam-se ao prazer da ciência e à satisfação de saber mais sobre o papel das aves marinhas como indicadoras do estado dos ecossistemas.