Prancheta ou Bandeja para Aspirar Paricá

MM

Maria do Rosário Martins

Das remessas etnográficas provenientes da Viagem Philosophica ao Brasil, que foram enviadas pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira para a Corte em Lisboa no decurso do séc.XVIII, destacamos a bandeja “um instrumento de que usa o Gentio para tomar o tabaco-Paricá”[1] [2] cujas informações foram resgatadas de documentos da época.

Paricá é o nome local de uma substância alucinógena extraída das sementes de árvores do género Piptadenia utilizada essencialmente em contextos cerimoniais, num complexo rito xamânico para comunicação com os espíritos, praticado apenas por homens. O narcótico era aspirado através de tubos de diversos ossos colocados na parte vazada das bandejas que continham o paricá moído[3], aludindo Ferreira ao modo especial como todo o aparelho funcionava, à decoração aprimorada e às práticas de flagelação que envolvia o ritual[4].

Foram várias as bandejas recolhidas por Ferreira, hoje integradas nos acervos da Academia de Ciências de Lisboa, da Sociedade de Geografia de Lisboa e na Universidade de Coimbra. Destacamos a prancheta de aspirar paricá (ANT.Br.39), pertencente ao Museu de Ciência da Universidade de Coimbra, proveniente da etnia Mauhé, esculpida em madeira com duas cabeças inseridas no cabo, uma com pequenas contas incrustadas nos olhos e, a outra, com plaquetas de madrepérola, refletindo um denso conteúdo simbólico.

Antigo ou contemporâneo, material ou imaterial, o património e os saberes a este associados só poderão ser conhecidos, partilhados e divulgados se valorizados, pelo que o estudo, a inventariação e a preservação são procedimentos incontornáveis que permitirão a partilha dos muitos saberes.