Restauro Improvável

BG

Biblioteca Geral

Universidade de Coimbra

No contexto de uma biblioteca, o “restauro” provável seria o dos livros, prejudicados por anos de “consumo” de leitura/manuseio ou pela praga (bem mais acelerada) das fotocópias. Esse seria o sentido de que, eventualmente, nós e toda a gente se lembraria imediatamente. Acontece, porém, que logo, logo, foi um outro restauro totalmente diferente que a palavra nos sugeriu. Porque nos está a preocupar mais e porque será, porventura, muito mais interessante e surpreendente para o público desta página.

Falamos do restauro em curso no prelo metálico atribuído a Manuel Bernardes Galinha, uma máquina adquirida pela Biblioteca Geral antes de 1874, há quase 150 anos. Porque o património das bibliotecas muito antigas não se conta só por livros.

O prelo estava nos baixos da Biblioteca Joanina, incompleto e com todas as partes de madeira em acelerada deterioração. Havia que intervir e a tal necessidade juntou-se o interesse demonstrado por um dos mais relevantes historiadores de prelos manuais no mundo: o museólogo Robert Oldham, quando tinha visitado Coimbra em 2018, assegurara-nos a sua disponibilidade para acompanhar o restauro, quando a Biblioteca Geral o empreendesse. Nos finais de 2019, surgiu a oportunidade (a reforma do átrio da Biblioteca, com a saída do turismo) e lá veio ele da Costa Rica instalar-se em Coimbra, durante 3 semanas. Como qualquer americano prático, chegou com 25 libras de ferramenta na bagagem, intercontinental. E com o sonho de imprimir neste prelo um folheto onde a longa história do objeto pudesse ser contada. O sonho já esteve mais distante. O prelo, que já não chamamos “do Galinha” (porque bem pode não ser dele), já imprime, agora só falta escrever o livro e imprimi-lo com tipos de chumbo, da mesma forma como os livros se fizeram durante 5 séculos.