Breve Nota sobre a Restauração Ecológica

HF

Helena Freitas

Vivemos num quadro global de risco e de incerteza que orienta forçosamente a reflexão e condiciona cada vez mais o planeamento e a decisão. No domínio do ambiente e da sustentabilidade, esta condição convoca a precaução e a prudência e reforça a urgência de uma atuação preventiva face aos riscos, o que constitui uma oportunidade para intensificar a transição ecológica, impulsionando a inovação verde, os investimentos estratégicos, a capacitação, o conhecimento, a inovação empresarial sustentável; uma trajetória consistente na transformação sistémica profunda na produção, consumo, comportamento social e estilos de vida, respeitando os limites planetários.

Percebemos que estamos perante grandes desafios de equidade ou sobrevivência, quando assistimos ao impacto crescente das alterações climáticas, à destruição anual de milhões de hectares de floresta e, de forma geral, às consequências da degradação generalizada dos ecossistemas e perda da biodiversidade. Uma das iniciativas que pode inverter os seus efeitos e trazer ganhos rápidos e em larga escala para a biodiversidade e para a mitigação e adaptação climática é a implementação de uma agenda ambiciosa de conservação e restauro dos ecossistemas: preservar e regenerar a floresta nativa, requalificar os cursos de água, recuperar as turfeiras e as zonas húmidas, travar e reverter o declínio da biodiversidade. O restauro ecológico é a melhor tecnologia rapidamente disponível para sequestrar carbono e ajudar a combater as alterações climáticas, sendo também a melhor forma de manter a água nos solos e mitigar as inundações e as secas.

Restaurar os ecossistemas não significa que vamos reconstituir a sua condição pristina, mas apenas tentar aproximar-nos desse estado funcional. Esta aposta tem uma importância estratégica para o país em áreas vitais como a restauração ecológica dos sistemas fluviais, incluindo a eventual remoção de barragens, em sintonia com um reforço do investimento em fontes renováveis de menor impacto, como a eólica e a solar, para melhorar a função ecológica dos rios. O restauro da saúde e da conectividade dos sistemas fluviais produz benefícios para as pessoas e para a natureza.

O território nacional tem uma rede de áreas protegidas de grande qualidade; da montanha, às zonas húmidas e ao litoral, ecossistemas que nos oferecem bens e serviços de enorme qualidade, indispensáveis à estratégia de valorização ambiental, económica e social do país. Impõe-se uma agenda mais forte de conservação e valorização da natureza, através do reforço do contributo do conhecimento, em estreita e harmoniosa cumplicidade com as comunidades e territórios.