Empoleirados na Estufa

JB

Jardim Botânico

Universidade de Coimbra

… era mesmo assim: empoleirados e sem andaimes (Fig. 1), que os jardineiros caiavam as estufas do Jardim Botânico por esta altura do ano, quando começavam os dias de calor.

Nesta imprescindível intervenção anual de conservação, mantida desde o século XIX (Fig. 2) para minimizar a queima das plantas pelo sol forte nos dias longos, a “vítima” era sempre o “Julito” (Júlio Ferraz), o mais levezinho. Atirava-se a esta aventura, “sem rede”, na parte mais alta - a vinte metros! (Figs. 1 e 3) - enquanto os colegas tratavam, progressivamente, a parte envidraçada lateral (Fig. 3).

O inverno e as chuvas se encarregavam de lavar os vidros, para, ao contrário, deixar entrar o calor e o sol nos dias curtos e frios. Um exemplo de sustentabilidade, a par de um empenho, abnegação e entrega por parte dos Senhores Jardineiros.

O Plano inicial da Estufa Grande, oferecido à Universidade pelo Arquiteto Pezarat e apresentado na Congregação de 14 outubro de 1854, foi inspirado nas estufas Palm House, de Kew Gardens, em Londres. Esta instituição de referência mundial, fundada em 1759, é contemporânea do nosso Jardim, estabelecido a 28 de agosto de 1772, apenas 13 anos depois.

Decorreram quase 100 anos desde a fundação do Jardim Botânico até à construção da Estufa Grande, iniciada em 1859 e concluída apenas em 1867. As estruturas em ferro, produzidas no Instituto Massarelos do Porto, foram transportadas por barco, rumando a sul, pelo Atlântico, para Coimbra, e subindo o rio Mondego chegaram à Portagem (fazendo jus ao nome). Depois de novo transporte, a montagem, desenvolvida no local, constituiu a construção icónica e marca deste Jardim Botânico e da Universidade de Coimbra.

Em 1997, sob a direção do Professor Doutor José Mesquita, procurando também atrair a comunidade através de um programa educativo, as estufas reabriram ao público, restauradas e modernizadas com o 1º sistema automático de aquecimento, ventilação e vaporização. As duas salas, poente e do meio, proporcionavam ambientes tropical e subtropical, e a terceira sala, a nascente, manteve as condições temperadas do exterior.

Nova reestruturação, já neste século, incluída no Projeto QREN promovido pela Diretora do Jardim, a Professora Doutora Helena Freitas. O Projeto da Estufa, entregue ao Arquiteto Mendes Ribeiro, incluiu instalação de cortinas automatizadas, em substituição da caiação (e do risco!), vindo em 2017 a merecer o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana (Fig. 4).

Esta obra de arquitetura do ferro e vidro do século XIX, a segunda mais antiga a nível nacional, até hoje honra a sua Casa e maravilha quem a visita.