O Jardim Renasce

AT

Ana Cristina Tavares

Jardim Botânico da Universidade de Coimbra

… a cada ano novo com as magnólias do Quadrado Central. Fiéis aos sinais do tempo, são as primeiras árvores do Botânico de Coimbra a despertar, em flor!

Em dezembro, o terraço do fontanário parece adormecer. Todas as caducifólias, que predominam com pujança naquele espaço, o mais antigo do Jardim, perdem a folha e se desnudam (Fig. 1). Um golpe de sol invernoso, mas decisivo, dá sinal e nova vida desponta em pétalas brancas da Magnolia denudata (Fig. 2), a primeira a florir, bem antes das folhas, como todas as magnólias deste terraço. Por isso foi eleita a árvore-do-ponto do 1º semestre, sendo a conhecida Liriodendron tulipifera em maio (2.º semestre), curiosamente da mesma família (Magnoliaceae).

E novo branco surge, estrelado e perfumado, nas Magnolia stellata (Fig. 3) seguido por outra onda, de tom rosa, bem forte e ampla, das Magnolia x soulangeana (Fig. 4), que perduram e predominam, e sempre em fevereiro presentes, dão o mote ao dia dos namorados no Jardim: “Seja tão fiel ao seu amor como as magnólias no Botânico ao dar Flor”.

Mais a poente surgem depois as cores mais fortes (uma estratégia devida à competição pelos insetos polinizadores), da Magnolia liliflora var. nigra (Fig. 5), quase lilás, e a Magnolia x soulangeana var. lenei (Fig. 6).

Magnolia é um género botânico com 223 espécies reconhecidas e nativas desde o Oriente (Japão, Himalaias, Malásia) às Américas (norte e sul). A planta terá sido introduzida na Europa via França, e Lineu (séc. XVIII) dedicou o nome a Pierre Magnol, Botânico de Montpellier.

São sete as espécies presentes no Jardim Botânico. Nestas cinco espécies (Figuras 2 a 6) de folha caduca e nativas do Oriente, destacam-se com importante interesse científico de conservação a M. denudata (Fig. 2) e M. liliiflora (Fig. 5) consideradas vulneráveis na Lista Vermelha de Espécies da China, e M. stellata (Fig. 3), endémica do Japão. Magnolia x soulangeana é um híbrido originário de jardins pelo cruzamento da Magnolia denudata com a Magnolia liliflora.

Quando nestas espécies a folha chega, já na queda das flores, surge então a floração da Magnolia acuminata (Fig. 7), outra caducifólia de floração verde bem discreta e mais tardia e nativa do Missouri, América do Norte. Também originária do mesmo continente, do SE dos Estados Unidos, e localizada noutro terraço, a sul da alameda das tílias, a conhecida Magnolia grandiflora (Fig. 8) é não caduca, mas de folha persistente, exibe flor branca exuberante, que ao contrário, surge em pleno verão. Demonstra bem as características primitivas da família Magnoliaceae, há 95 milhões de anos a renascer e a deslumbrar, e de excecional interesse científico e educativo, pelos caracteres considerados evolutivamente primitivos. Alguns são evidentes na Figura 8: as peças das flores organizadas em espiral e não em anéis (sendo nítida a distinção entre os carpelos mais acima no eixo floral e os estames mais abaixo, alguns já soltos), e as sépalas e pétalas não são claramente diferenciadas, ao contrário do que ocorre na maioria das outras Angiospérmicas (plantas com flores).

Surpreendentemente, e a confirmar no Jardim, os frutos das Magnoliaceae têm a forma de uma pinha oval, de cor castanha, apenas na aparência: na realidade, trata-se de um conjunto de folículos agrupados numa estrutura lenhosa em forma de cone, sendo esta mais uma caraterística morfológica primitiva, para além da referida disposição helicoidal das peças florais.

Um privilégio, este espetáculo que nos presenteia e renasce a cada ano, em cor e profusão de flores, que mais se destacam pela ausência das folhas - simplesmente herdado, surge sem aviso, só se deixa adivinhar e a não perder: conhecer para preservar!