Uma Descoberta Acidental que Revolucionou a Indústria

AT

Ana Cristina Tavares

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

O que é um pigmento?

Em Biologia, trata-se de qualquer substância corada existente, de forma normal ou anormal, nas células ou nos tecidos de um organismo. Para a Química, é um corante natural ou sintético praticamente insolúvel na água. Na Mineralogia, refere-se a substância corante que confere cores variadas a alguns minerais.

Por unanimidade: onde há Pigmento há cor. E a descoberta da síntese de pigmentos foi tão importante que revolucionou a indústria no século XIX.

Durante séculos, os tecidos de cor púrpura foram os mais utilizados como sinal de realeza, já que a cor era difícil de obter: extraíam-se corantes de conchas, provenientes de certos moluscos do mediterrâneo, sendo necessárias mais de 80 para tingir um metro de tecido.

Em meados do séc. XIX (março de 1856), o inglês William H. Perkin descobriu acidentalmente no seu laboratório a púrpura de anilina, malva ou malveína: um corante químico orgânico sintético, pertencente à faixa do violeta e magenta.

William Perkin, com apenas 18 anos e estudante de Química em Londres, realizava estudos para sintetizar a quinina, utilizada no tratamento da malária. O primeiro objetivo era oxidar a aliltoluidina (C10H12N, um derivado da anilina, um composto orgânico), para obter a quinina (C20H24N2O2), mas não conseguiu.

Numa das etapas da preparação, empregou um poderoso agente oxidante: dicromato de potássio. O resultado dessa oxidação foi uma pasta escura que não se parecia nada com a quinina.

Repetiu o procedimento com anilina (C6H5NH2), um composto orgânico mais simples, sólido, que varia do incolor ao levemente amarelado. O produto foi um sólido negro, ainda mais diferente da quinina. Contudo, notou que ao usar água e o álcool para lavar o frasco, o sólido era dissolvido e o líquido resultante adquirira cor púrpura.

O jovem químico acabava de produzir o corante sintético malva, que designou malveína, mauveína ou púrpura de anilina, o primeiro a ter sucesso na indústria têxtil. Fascinado com o inesperado resultado, o jovem químico percebeu que as soluções obtidas tingiam tecido. Rapidamente encontrou um método prático para extrair o corante púrpura da mistura negra. A síntese do corante malva, e dos que lhe seguiram, representaram uma tecnologia de ponta para a época, idêntica ao sucesso de hoje das fibras têxteis sintéticas.

Perkin patenteou o novo corante e abriu uma fábrica de tinta em Greenford, no oeste de Londres. Malva foi a cor privilegiada daquele ano e rapidamente o corante se difundiu e teve uma grande procura resultando num sucesso de vendas.

Com este feito inovador, Perkin foi autor de uma descoberta revolucionária na indústria têxtil, química e farmacêutica, sem precedentes, conseguindo que algo que era raro e caro se tornasse acessível ao cidadão comum.

Esta experiência está retratada numa hotte (Figura 1) da Sala da Exposição permanente “Da Luz e da Matéria”, no edifício Chimico do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra.