A Ousadia de Fernão de Magalhães

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A. E. Maia do Amaral

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

Por estes dias, celebramos o que foi talvez a maior ousadia de todos os tempos. A viagem de Fernão de Magalhães, realizada entre 1519 e 1522. Mais de metade dela feita por mares totalmente desconhecidos. Só possível com a tecnologia, a experiência e a ousadia portuguesas.

Na época, o feito suscitou em Portugal rancor e vergonha: os descendentes de Magalhães abandonaram a casa de família e picaram os brasões, tentando fazer esquecer qualquer ligação ao “traidor”. Esta violenta damnatio memoriae chegou bem até ao século 20: veja-se que só em 1938 foi traduzido e publicado pela primeira vez entre nós o principal testemunho presencial desta ousada viagem, o relato de Antonio de Pigafetta.

Comemorar quer dizer “lembrar em conjunto” e faz todo o sentido associarmo-nos hoje aos espanhóis nestas Comemorações. Faz sentido lembrar Magalhães em Portugal porque deve fazer sentido para Portugal lembrar o português mais relevante e mais conhecido em todo o mundo. A primeira volta ao mundo, a mais longa viagem, a descoberta da circum-navegabilidade da Terra, a revelação da imensidade dos mares e da dimensão verdadeira do globo.

A Biblioteca Geral concebeu uma exposição bibliográfica que está patente na sua Sala de São Pedro, de 27 de novembro de 2020 a 19 de fevereiro de 2021. Exposição que foi reconhecida pela Unidade de Missão para as Comemorações nacionais e integrada no seu programa de atividades, e que ficará disponibilizada para todo o mundo (em inglês) numa exposição virtual na plataforma Google Arts and Culture.

Mas a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra tem estado e estará também presente, diríamos, em todas as grandes exposições comemorativas da viagem: na grande exposição de Sevilha, no Archivo General de Indias, na sua reposição no Museo San Telmo de San Sebastián, na exposição de Punta Arena e no Centro Cultural La Moneda, no Chile. E esteve presente emprestando um impresso raríssimo, a primeira edição italiana (1536) do texto de Pigafetta, que possui entre os seus fundos preciosos. Porque uma grande Biblioteca não pode deixar de se estender para lá das suas paredes, uma grande Biblioteca não é só nossa, pertence ao mundo. Como o próprio Magalhães.