Olhar/Tocar

Desconhece-se a razão pela qual João Rodrigues Vieira (1856-1898), devotado até então à arte escultórica, deixou de TOCAR a pedra e o gesso e se dedicou, apenas, à pintura e ao desenho, deixando plasmado na tela o que o seu OLHAR, com sensibilidade artística, captava.

Fez parte do grupo de artistas que se reunia na Cervejaria Leão de Ouro, em Lisboa, tendo sido, por essa razão, apelidado de “Grupo do Leão”.

João Rodrigues Vieira figura entre aqueles que o grande pintor Columbano Bordalo Pinheiro imortalizou na sua obra “O Grupo do Leão”, pintada em 1885.

Veio residir para Coimbra, deixando Lisboa, onde nascera, tendo passado ainda por Leiria, onde se sabe que já estava em 1881, como professor de Desenho, no Liceu daquela cidade.

Na Universidade de Coimbra, tomou posse, como professor interino, da cadeira de Desenho (anexa à Faculdade de Matemática) por nomeação do Reitor da Universidade, de 23 de abril de 1887 e, posteriormente, como professor efetivo, por Decreto de 13 de dezembro de 1888.

Esta cadeira era ministrada na Aula de Desenho e era frequentada por alunos da Faculdade de Matemática, existindo ainda uma outra cadeira de Desenho, frequentada por alunos da Faculdade de Filosofia. Daqui advém a designação de Desenho Matemático e Desenho Filosófico, tendo regido ambas as cadeiras, em situação de acumulação, nos anos letivos em que leciona, até à sua aposentação em 1896.

Em Coimbra, deixou ainda, enquanto escultor, um busto em gesso, de José Bonifácio de Andrada e Silva que hoje se encontra na Galeria Académica, do Museu da Ciência da Universidade.

Sabe-se que na Aula de Desenho haveria modelos em madeira, em gesso e outros materiais, de forma a poderem ser contemplados pelos alunos, para sua reprodução. A Casa Delgrave, de Paris, foi fornecedora de muitos desses modelos, como pedestais, mausoléus, balaústres, vasos etruscos e gregos, etc. Existiam ainda modelos de animais, em baixo relevo.[1]

Apresentou-se em diversas exposições de Arte, como escultor, mas, posteriormente, apenas como pintor, deixando de expor nos últimos anos de vida, tendo falecido em Coimbra, em 5 de janeiro de 1898.

Existe um outro busto de José Bonifácio, em mármore, na Galeria de Mineralogia, da autoria do escultor coimbrão João Augusto Machado (1862-1925) , executado em 1909, inspirado neste busto.

Pode ser feita a comparação gráfica (fig. 3) com a assinatura, na carta acima apresentada (fig.1).