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André Breves Ramos

Biólogo, Conservador das Coleções de Zoologia no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

Gestos simples, sensíveis, complexos, normais, uma vontade de tocar em tudo, muito mais do que somente olhar. São espécimes estranhos, curiosos, sedutores, delicados, diferentes, são obras primas da natureza. São artefactos humanos, peças, utensílios, instrumentos que estão exibidos à frente dos olhos, por vezes com defeitos como nós, mas geralmente com tantos detalhes interessantes e de uma integridade que nem parecem nossas criações.

São dois lados, dois andares, grandes vitrinas e muitas coisas para admirar, notar, pensar. Toca o coração. Estão mortos, muitos de aparência ainda vivos, ao menos nas ideias, nos ideais de mundos que não conhecemos, mas já perderam as suas almas. Do lado esquerdo da galeria há peles, esqueletos, pedaços de animais, cascos e conchas da mais pura perfeição.

Tantas pessoas, tantos estrangeiros, tantos olhares, tanta gente diferente passa por aqui. Muitos desejam muito mais além de só olhar para o que é o retrato da natureza. Querem conhecer cada vez mais, querem saciar as suas curiosidades, querem colocar cada animal dentro das gavetas das suas mentes. Querem organizar esse repertório enorme de informações do ambiente que nos cerca, do caráter e da natureza da coleção.

São gestos humanos dos nossos viajantes, convidados, de quem vem à procura do desconhecido, do antigo, do novo, do vigente e do moderno. Aqui é o ilustre e notável local da variedade, o universo das formas diferentes, dos tamanhos e das cores. Por mais cheio que esteja, parece sempre caber mais gente, mais coleções e não poderia estar vazio, porque seria o seu fim.

Embora separado dos visitantes por um vidro de uma vitrina, conta uma história deslumbrante. Pela importância histórica e por ser um espécime frágil, neste caso, tocar pode causar danos irreversíveis, pelo que deverá ser realizado apenas por técnicos especializados.