Os 250 anos do Gabinete de Física Experimental

GP

Gilberto Pereira

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra | Centro de Física da Universidade de Coimbra

O Gabinete de Física Experimental da Universidade de Coimbra foi criado em 1772 com os novos estatutos da Universidade de Coimbra, promulgados pelo Ministro do Rei Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), Marquês de Pombal.

Estes estatutos proclamavam uma grande revolução no ensino universitário, salientando-se a extinção da Faculdade de Teologia e a criação de duas novas Faculdades: Filosofia (denominação que atualmente é equivalente a Ciências) e Matemática. Associados à Faculdade de Filosofia foram criados quatro estabelecimentos para apoio das aulas: o Gabinete de História Natural, o Jardim Botânico, o Laboratório Chimico e o Gabinete de Física Experimental. Acerca da função deste último, sobre o qual nos debruçamos, os estatutos referem o seguinte:

Para que as Lições de Fysica, que Mando dar no Curso Filosofico da Universidade, se façam com o aproveitamento necessario dos Estudantes; os quaes não sómente devem ver executar as Experiencias, com que se demonstram as verdades até o presente conhecidas na mesma Fysica; mas também adquirir o habito de as fazer com a sagacidade, e destreza, que se requer nos Exploradores da Natureza; haverá tambem na Universidade huma Collecção das Máquinas, Aparelhos, e Instrumentos necessários para o dito fim. (…) Haverá huma Sala, ou Casa destinada para a dita Collecção das Máquinas, a qual tenha a capacidade necessaria, para nella se fazerem todas as Experiencias, relativas ao Curso das Lições, com assistencia dos Estudantes: Sendo as ditas Máquinas ordenadas em Armários, quando for possível, pela mesma ordem das Lições, para que as Demonstrações se façam mais commodamente, e sem alguma confusão. (Estatutos da UC, 1772)

Para dar corpo a este novo espaço de ensino, e a mando do Marquês de Pombal, arribaram a Coimbra, no dia 3 de fevereiro de 1773, através do rio Mondego, vindos de Lisboa com passagem pela Figueira da Foz, um conjunto de 562 instrumentos e acessórios, que tinham sido reunidos no Real Colégio dos Nobres de Lisboa. Com eles, também aportaram nesta cidade António Dalla Bella (1726-1823), professor italiano responsável pela criação e uso desta valiosa coleção, e Joaquim José dos Reis, responsável pela construção de alguns destes objetos. Sobre as suas responsabilidades, os estatutos salientam que:

O Professor de Fysica Experimental terá a Intendencia sobre a Casa das Máquinas debaixo da Inspecção do Reitor com a Congregação da Faculdade, e com a Congregação Geral das Sciencias. E terá á sua ordem hum Official subalterno, ou Demonstrador de Fysica Experimental, o que será provído pelo Reitor com o Conselho da Faculdade: Concorrendo nelle as circumstancias; de saber tratar das Máquinas; e de fazer as Operações de mais trabalho todas as vezes que pelo Lente lhe for ordenado. Será mais obrigado a ter sempre todas as Máquinas limpas, e asseadas. (Estatutos da UC, 1772)

Desta coleção oitocentista, cerca de metade sobreviveu até à atualidade. E é o seu valor científico e pedagógico, aliado à sua importância para a História da Ciência, e a sua preservação no espaço e armários originais, que fizeram com que este invulgar Gabinete fosse distinguido em 2014 como Sítio Histórico para a Física, pela European Physical Society. Cabe-nos a nós a sua preservação.