A Melhor Parte da Humanidade Está na Biblioteca!

AA

A. E. Maia do Amaral

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

Nestes textos “institucionais”, em que a minha voz deve refletir a da instituição que aqui represento, não posso partir por aí a escrever o que me apetece: e bem que o tema “Humanidade” se prestava a isso! Portanto, ficaria por esta ideia simples:

Existirá mais perfeita imagem de “Humanidade” do que uma biblioteca?

Nas suas estantes, cada um daqueles paralelepípedos de papel a que chamamos livros representa ou uma faceta de alguém, ou uma investigação de alguém ou uma história que alguém imaginou e contou. Nas estantes das bibliotecas, em última análise, alinham-se pessoas, é uma tranche da Humanidade que ali está representada com o que de melhor fizeram. Contudo, não a Humanidade toda: só aquela que se expõe aos outros, escrevendo, e que se dispõe para os outros, publicando-se. Diria, portanto, que nas estantes de uma biblioteca é sempre a parte melhor da Humanidade que está representada!

Isto é, sobretudo, verdade para uma biblioteca de caráter “geral”, como a BGUC. Onde o mais importante é que a “amostra” de pessoas seja representativa: das várias épocas, convicções, saberes (ou ignorâncias) respetivas. Importante é que inclua até as opiniões com as quais não concordamos, desde que tenham sido publicadas.

Para que uma biblioteca seja plural, os seus fundos documentais terão de ser “universais”, isto é, cobrir todos os assuntos, e que proporcionem sobre cada um deles as várias perspetivas possíveis. Mas nem isso basta, também é necessário que sejam isentas, não-comprometidas ideologicamente as ferramentas de acesso a esse fundo universal. Por exemplo, posso eu estar muito convencido de que Fátima, em 1917, foi uma manifestação “ovnilógica”, mas não posso refletir isso na indexação que farei como bibliotecário. Para conseguir este desiderato, ajudam muito a existência de uma deontologia profissional e de técnicas bibliográficas. Por isso, não é irrelevante que as bibliotecas tenham (ou não) bibliotecários formados. As questões críticas do acesso à informação não podem ficar apenas na mão de amadores bem-intencionados nem de algoritmos incontroláveis.