A Tristeza de Tomé Rodrigues Sobral

“ver reduzidas a cinzas as minhas casas, os meus livros, colleção preciosa e em grande parte irreparável”

AB

Ana Maria Bandeira

Arquivo da Universidade de Coimbra

Os maiores inimigos dos livros e documentos, para lá da incúria humana, são, evidentemente, a água e o fogo. Estes, velozmente, consomem obras insubstituíveis, preciosidades bibliográficas e manuscritos, reunidos durante uma vida inteira.

Sendo, precisamente FOGO, o tema a ilustrar, não poderia ser escolhido testemunho mais esclarecedor do que este, em que se ilustra como, rapidamente, tudo se reduz a cinzas.

A bela carta do grande professor de Química e Metalurgia, Tomé Rodrigues Sobral, dirigida a Francisco António Duarte da Fonseca Montanha Oliveira e Silva, professor da Faculdade de Leis, que ocupava então o cargo de Vice-Reitor da UC, foi redigida em 1810 e sobreviveu, reunida entre o acervo de correspondência dirigida a este Vice-Reitor.

O ilustre professor de Química, também diretor do Laboratório Químico, terá sido vítima de uma vingança, de tropas franceses que atearam fogo às suas casas, em 1 de outubro de 1810, por ter dirigido o fabrico da pólvora, no Laboratório Químico, para defesa da cidade, por ocasião da primeira invasão francesa, em 1808.

É bem esclarecedor este excerto que se transcreve (atualizando a acentuação de palavras, para ser mais legível):

“… se me fosse licito fazer a V. S.ª hua relação miúda dos meus infortúnios na vida académica, poderia sem exagerar concluí-la com o que acabo de sofrer. Estão finalmente coroados todos os meus trabalhos literários e premiados os meus serviços académicos com ver reduzidas a cinzas as minhas casas, os meus livros, colleção preciosa e em grande parte irreparável. Em summa de quanto tinha, não posso dizer que me ficassem ao menos as paredes das casas; pois essas mesmas se inutilizaraõ pella violência do incendio.”

Assim, viu dolorosamente perderem-se todos os seus livros e manuscritos, que se encontravam na sua casa, na Quinta da Cheira, onde residia. Hoje, encontra-se atribuído o nome de Tomé Rodrigues Sobral à rua paralela à rua da Fonte da Cheira, precisamente próximo da zona da cidade, onde terá vivido.