Sobre Estações (ou afinal não)

AA

A. E. Maia do Amaral

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

Com um mote destes, tanto se pode escrever sobre a primavera como sobre a estação ferroviária de Coimbra-B. O que tem a Biblioteca Geral a dizer acerca de “Estações”? Experimentando inserir a palavra na página da pesquisa do catálogo em linha, encontraremos 256 ocorrências apenas na BGUC; já se tentarmos em “totalidade da coleção”, serão 348 ocorrências no sistema integrado de informação bibliográfica. Dá que pensar que uma comutação tão simples, pesquisar apenas numa biblioteca ou em todas, fosse uma total novidade, há apenas 50 anos. Em 4 de maio de 1971, nas instalações da Biblioteca Geral, foi inaugurado o “Catálogo Coletivo da Universidade de Coimbra”, que permitia ultrapassar a situação identificada dez anos antes:

Estas bibliotecas [da Universidade] desconhecem-se umas às outras (…) cada uma tem a sua direção própria, as suas normas, as suas fichas, a sua técnica…” (J. M. Motta de Sousa, 1961).

Detetado o problema, a BGUC tratou de o resolver e, com trabalho extraordinário do seu pessoal (pago pelo III Plano de Fomento e por um subsídio da Fundação C. Gulbenkian), foi possível juntar num único catálogo físico as cópias das fichas bibliográficas de várias bibliotecas universitárias. Este catálogo em fichas foi alimentado durante uns vinte anos, até 1987. Tratou-se de um imenso passo em frente no acesso público aos fundos bibliográficos, complementado pela publicação dos “Sumários da Publicações Periódicas Portuguesas”, precioso repositório de dezenas de milhares de entradas, e também descontinuado enquanto produto impresso.

Por via das equipas de catalogação que se deslocavam às restantes bibliotecas universitárias, recuperaram-se catalogações em atraso, harmonizaram-se procedimentos técnicos e melhoraram-se as relações interpessoais e entre bibliotecas da UC, o que não é pouco. O esforço consagrado durante anos à manutenção do CCUC (Catálogo Coletivo da UC) permitiu que, quando a informatização acabou por se impor, tudo fosse muito mais fácil e a cooperação quase natural. Em 1973, a Biblioteca Geral já clamava pela “automatização” do CCUC, mas isso era claramente prematuro no mundo real da “evolução na continuidade” marcelista. A UC podia ter sido a primeira universidade a informatizar-se (e a fazê-lo em rede) mas a reclamação da Biblioteca Geral de então não foi atendida.