Das Estações ao Museu

JO

Joana Cabral Oliveira

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

Falar de estações, em Ano Europeu do Transporte Ferroviário, faz lembrar a sua importância também para as coleções do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (MCUC). Locais de encontro e desencontros, de partidas e chegadas, elas, as estações, têm sido, para o hoje MCUC, centro relevante, ao longo de anos, de tantas remessas, recebidas e enviadas, e ainda de deslocações para explorações zoológicas. Os comboios foram, de facto, historicamente, essenciais na constituição do importante acervo científico da Universidade de Coimbra.

Atentemos, apenas, em dois exemplos muito curiosos e emblemáticos:

Em novembro de 1871, com origem no norte do país, chegava a Coimbra B uma remessa especial. Desmontados e numerados, vinham os ossos que compunham um enorme esqueleto de uma baleia-comum, dada à costa na praia da Póvoa do Varzim. Tinha sido adquirido, por vinte e sete mil reis, pelo então diretor do Museu de Zoologia, Joaquim Augusto Simões de Carvalho. O entusiasmo foi grande, sendo o esqueleto montado na nova Sala da Zoologia – anteriormente ocupada pelo Hospital da Conceição –, juntamente com um esqueleto de golfinho e outro de camelo, ainda exemplares de crocodilos, tartarugas, manatins, dentes de narval, presas de elefante e rinoceronte e diversos outros objetos.

Posteriormente, seria também de comboio, provenientes de Lisboa, que, em dezembro de 1931, chegariam 15 caixas com a valiosa coleção de conchas exóticas de António Augusto Carvalho de Monteiro, oferta do seu filho Pedro de Carvalho Monteiro.

Detentor de enorme fortuna – que valeu ao edificador da emblemática Quinta da Regaleira, em Sintra, a alcunha de “Monteiro dos Milhões” – Carvalho Monteiro era, também, um importante naturalista e colecionador. Do seu acervo foram, entretanto, legadas ao Museu, para além de conchas, quatro armários de duplicados da sua famosa coleção de borboletas.

Pela rede ferroviária nacional, pelas suas estações, muitas são as linhas e histórias que se cruzam, também na memória museológica da UC. É tempo, agora, de lhes dar uma nova vida.