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Luuanda

de José Luandino Vieira

O livro foi publicado e premiado em Luanda com o seu autor preso por razões políticas no Tarrafal. Foi de novo premiado em Lisboa pela Sociedade Portuguesa de Escritores, o que motivou o assalto e destruição da sua sede por «desconhecidos», na realidade por elementos afetos à PIDE e Legião Portuguesa, na noite de 21 de maio de 1965. Os membros do júri foram presos e a S.P.E. legalmente extinta por causa da atribuição deste prémio.

PROIBIDO DE CIRCULAR

Ouve aqui um trecho de um dos contos, lido por Sofia Lobo

«Chegou mais junto dela e parecia o vento frio do cacimbo tinha ficado quente nessa hora mesmo.

— Senta no chão, dá mais jeito Gágá…

Tinha voz dela doce outra vez e os olhos macios. Empurrou-lhe o pé na barriga, com devagar de gato, o largo pé descalço de menina de musseque, mesmo em cima do meio das pernas, para pôr cócegas, e um fósforo aceso correu no sangue de garrido, jindungo, quissondes a morder-lhe, era bom. (…) Mas como ia fazer nessa hora em que todo ele tremia, cheio de frio do calor no sangue e a mão quente da Inácia tinha-lhe agarrado na capanga dele para não cair e todo o peito rijo e macio, a boa catinga do corpo maduro dela estavam em cima dele, sentia-lhe entrar em todos os buracos da roupa? (…) Inácia tinha puxado a saia bem encima dos joelhos redondos e lisos e garrido sentiu nos olhos a queimar-lhe, a tapar tudo o resto, aquela pele preta, engraxada, luzia no escuro lá dentro, das coxas compridas e rijas e esse sentir queria-lhe puxar a cabeça mais em cima para espreitar outra vez, mais (…)» (p. 57-58)