Atenção à Vaca-Loura, que Voa!

AT

Ana Cristina Tavares

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

Como é comum nos insetos, a vaca-loura, o maior escaravelho que existe em Portugal e um dos maiores da Europa, voa!

De nome científico Lucanus cervus (Linnaeus, 1758) esta é uma espécie protegida por lei e classificada como “Quase Ameaçada” pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Consta do Anexo II da Diretiva Habitats (espécie cuja conservação exige a designação de zonas especiais de conservação) e está igualmente incluída no Anexo III da Convenção de Berna, e ainda classificada como “Quase ameaçada” pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Com distribuição nacional a norte e centro, encontra-se também mais a sul, em Sintra, como um núcleo isolado.

Tudo indica que o nome vulgar se relacione com a aparência deste invertebrado: “vaca” por causa das mandíbulas bastante desenvolvidas que parecem chifres; “loura” pela fiada de pelos amarelados a separar os segmentos do corpo. Dependendo do local do país é ainda conhecida por cabra-loura, carocha ou abadejo.

O macho é inconfundível, pelas mandíbulas em forma de hastes de veado, enormes e poderosas, que usa para conquistar a fêmea no acasalamento e completar o ciclo de vida. Na época de reprodução, em junho-julho, os machos lutam entre si no cimo das copas das árvores e parece que o vencedor, o que não cair, conseguirá acasalar.

Para além desta diferença morfológica, os machos são maiores, até 8 cm de comprimento, e as fêmeas atingem apenas metade, 4cm. Os machos vivem só 1 mês, podem ser vistos entre maio e julho; já as fêmeas vivem 3 meses e podem ser encontradas até setembro.

Os machos morrem após a cópula, mas as fêmeas vivem até encontrarem um local propício para depositarem os seus ovos junto de raízes de árvores velhas, principalmente de espécies de folha caduca, como o carvalho-alvarinho ou o castanheiro, onde as larvas se irão abrigar durante mais ou menos 3 anos. Nesta fase do ciclo de vida a alimentação das larvas é à base da madeira morta, desempenhando um papel ecológico muito importante nas florestas, pela reciclagem de nutrientes, enriquecimento dos solos e consequente aumento de fertilidade. Quando atingem determinado tamanho, as larvas eclodem passando pela fase de pupa até completar a metamorfose e chegarem a adultos.

O projeto de ciência cidadã – vacaloura.pt – surge em 2016 com a finalidade de contribuir para a localização e conservação da espécie Lucanus cervus (vaca-loura) e restantes espécies de escaravelhos da mesma família Lucanidae. Em 2017 concretizou-se o inventário e a incorporação dos espécimes do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra no Projeto. O Museu integrou a rede de embaixadores a partir de 2021, pretendendo promover divulgação desta espécie e do Projeto em curso e 100% voluntário.

Representando um importante recurso científico para estudo da biodiversidade, o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra estima um espólio de cerca de 200 mil espécimes de insetos. Mais de 30.000 são escaravelhos de Portugal, destes apenas 58 pertencem a esta espécie, Lucanus cervus (Linnaeus 1758), na Coleção Museológica de Coleóptera de Portugal (A. A. M.).