No Rasto das Viagens Filosóficas: um Percurso Documental...

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Arquivo

Universidade de Coimbra

No rasto das Viagens Filosóficas, faremos um pequeno percurso documental, seguindo o fio condutor que liga entre si os documentos agora divulgados.

Deparamo-nos, primeiramente, com o testemunho do percurso académico de Alexandre Rodrigues Ferreira (1765-1815), um dos mais destacados naturalistas que participou nestas viagens e que iniciou os seus estudos na Faculdade de Filosofia em 1774. Não sabia então, este jovem aluno de dezanove anos, ao redigir uma petição para se matricular no 1.º ano do Curso Filosófico, como o destino o levaria alguns anos mais tarde, de regresso ao Brasil, de onde era natural (Baía). Em 1783, iniciaria uma longa viagem de milhares de quilómetros, desbravando terras e rios de capitanias diversas, no Estado de Grão-Pará e Maranhão, coligindo plantas, artefactos, reconhecendo e descrevendo costumes étnicos e uma diversidade de testemunhos da cultura material dos povos indígenas.

O registo documental, das primeiras decisões tomadas em congregação dos professores da Faculdade de Filosofia, relativamente a estas viagens, ficou redigido em 2 de junho de 1779. Trata-se apenas de um borrão, para ser lançado no primeiro livro de Atas das Congregações da Faculdade de Filosofia, o que não veio a acontecer, pois só em 1783 se inicia o registo nesse volume. Podemos saber que, estando presente o reitor D. Francisco de Lemos, se tomaram diversas decisões, entre elas que os estudantes “se exercitassem na pratica das viagens” e que o doutores Vandelli e Dalla Bella redigissem um plano “pelo qual se devessem regular” essa viagens. Nessa mesma data (1779) decidiu-se que uma das viagens a ter lugar, proximamente, seria à Serra da Estrela e à Serra do Gerês e “que a ellas se dirigissem os naturalistas”.

Não sabemos o que foi coligido nesta viagem mas, continuando o percurso documental, chegamos a um terceiro documento que nos testemunha, para 1804, as despesas do Museu de História Natural, da Faculdade de Filosofia, podendo conhecer-se a entrada de alguns produtos. Certamente, muitos dos produtos eram provenientes de algumas viagens, mas outros provinham, também, por via de aquisições e doações. No registo de despesas em questão (1804) enquadram-se espécies zoológicas diversas, como dois texugos, uma raposa e um lobo, além das referências a uma enguia e peixes que se prepararam. Ficamos a saber que no Museu existiam diversas estampas de animais, afixadas nas paredes, assim como podemos conhecer os produtos usados na conservação das espécies e, ainda, curiosamente, a referência a “duas dúzias de botões pretos para os olhos dos animais”. Estes documentos de despesa são uma fonte inestimável para conhecer a evolução dos acervos da Universidade, bem como as despesas de acondicionamento, limpeza, transporte, etc. Francisco António Ribeiro de Paiva, o professor que confirma o registo de despesas mencionado, começou, precisamente, a sua carreira académica como docente da cadeira de História Natural, em 1780, como lente substituto e demonstrador, chegando a 1.º lente da cadeira de Zoologia e Mineralogia, em 1791, na Faculdade de que foi também diretor (1811-1831).