Viagens de Jacinto de Sousa para a Criação do Futuro OMMUC

Observatório Meteorológico e Magnético da Universidade de Coimbra (1860-61)

FF

Fernando B. Figueiredo

DM, CITEUC, Projeto HISTIGUC – 150 anos de história do IGUC

PR

Paulo Ribeiro

OGAUC, CITEUC, Projeto HISTIGUC – 150 anos de história do IGUC

Durante o século XIX, o estudo das interações sol-terra, em particular através da interdisciplinaridade da física solar, do magnetismo terrestre e da meteorologia, recebeu grande entusiasmo e apoio financeiro das nações, resultando em grandes avanços teóricos e práticos (instrumentais/redes de observação). Portugal não ficou alheio a esta corrente de desenvolvimento científico, e a Escola Politécnica de Lisboa e a Universidade de Coimbra procuraram em breve criar observatórios meteorológicos e geomagnéticos em tudo semelhante aos melhores da Europa.

Em 1860, Jacinto de Sousa (1818-1880), jovem professor da Faculdade de Filosofia Natural, foi enviado numa viagem científica a alguns observatórios europeus, a fim de se inteirar das suas atividades e programas científicos que ajudariam ao planeamento e criação de um futuro Observatório Meteorológico e Magnético na Universidade de Coimbra (OMMUC). Criado em 1864 o OMMUC, será uma das primeiras instituições universitárias do país a estabelecer um programa contínuo de observações geofísicas. A sua fundação e florescimento são um bom exemplo dos esforços das instituições portuguesas, e em particular da Universidade de Coimbra, para acompanhar o desenvolvimento acelerado da investigação científica europeia na segunda metade do século XIX, em particular através do estabelecimento de uma rede de colaborações estratégicas com os principais cientistas e observatórios.

Nesta viagem, que decorre nos meses de agosto e setembro de 1860, Jacinto de Sousa visita os principais observatórios meteorológicos e magnéticos de Espanha, França, Bélgica e Inglaterra. Em Londres visita os Observatórios de Greenwich e de Kew, onde conhece e estabelece contactos com o Astrónomo Real G.B. Airy (1801-1892), com E. Sabine (1788-1883), um dos principais responsáveis pela Cruzada Magnética no vasto Império Britânico, e B. Stewart (1828-1887), diretor do Observatório Kew, instituição de referência mundial na investigação da meteorologia e do magnetismo terrestre. As relações estabelecidas com Balfour Stewart e Edward Sabine vão ser fundamentais para a criação, constituição do acervo instrumental e planeamento da futura atividade científica do OMMUC.

Em agosto de 1861 Jacinto de Sousa volta a Kew para assistir à determinação das constantes dos magnetómetros, e para obter a necessária formação prática à boa utilização dos instrumentos sob a orientação de Stewart.

No final de novembro desse mesmo ano Jacinto de Sousa apresenta à Faculdade de Filosofia o relatório da sua viagem a Inglaterra, e o ‘risco do observatório meteorológico de Coimbra, que foi delineado e aprovado em Kew’, que viria a ser construído no Alto da Cumeada.

Em 1864 o OMMUC entraria oficialmente em plena atividade sob a direção de Jacinto de Sousa.