Expedições Científicas e Imprevistos

JP

Jorge Paiva

Comecei a estudar e colher plantas em 1956, pois tinha de apresentar um herbário no ano seguinte para ter aprovação numa disciplina da licenciatura em Biologia. Nessa altura, levei com um cajado nas pernas, atirado pelo dono de um laranjal, que não acreditou que eu andava a colher ervas e não a furtar laranjas (1).

A expedição mais prolongada que integrei, sempre acampado nas florestas e savanas tropicais, foi a Moçambique e um pouco no Malawi e Zimbabwe, desde o início de novembro de 1963 a 30 de abril de 1964. Essa expedição foi fértil em episódios.

Lembro-me, que estando nós a colher plantas numa floresta aberta, que os ingleses designam por "savana woodlands", começamos a ouvir um barulho enorme, como se fosse um trovoada a aproximar-se. Ao olharmos na direção de onde vinha o som, vimos uma nuvem de poeira. Então alguém gritou para que subíssemos imediatamente para as árvores, pois era uma manada de búfalos em debandada e, quando a manada vem nessas ondas em trote acelerado, leva tudo à frente.

Foi a nossa sorte. Quando descemos, o solo parecia ter sido lavrado. Ainda consegui tirar uma foto (tremida) do cimo da árvore para onde tinha subido. Ainda me lembro da espécie da árvore, uma acácia de tronco amarelo (Acacia xanthophloea Benth.), a que os ingleses chamam “fever tree”, por causa da febre amarela, ainda frequente nos trópicos nessa época. Amarelo estava eu em cima da árvore!!!

Cerca de seis décadas depois de ter iniciado a minha carreira profissional, com 86 anos, juntamente com três jovens zoólogos (Gregorius Jongsma, americano; Luís Ceríaco, português e Stwart Nielsen, canadiano, integrei em 2019 outra “Viagem Philosophica” às florestas tropicais de chuva (pluvisilva) do Norte de Angola (província do Uíge).

As expedições científicas nestas florestas devem ser feitas na época das chuvas, quando as plantas florescem e quando os animais que os colegas herpetólogos (o português estuda répteis e o colega estrangeiros anfíbios) estudam se encontram em plena atividade.

Numa das noites em que nos infiltramos na floresta para colher relas e rãs, apanhamos uma enorme trovoada tropical. Chegados ao acampamento, completamente encharcados, encontrámos o interior das barracas completamente alagado. Eu ainda consegui dormir na minha barraca, pois prevenido levara dois sacos cama impermeáveis e, colocando um sobre o outro, pude estar deitado no superior, sem ficar ensopado em água. Já o Luís Ceríaco teve de dormir sentado num dos jeeps!