Restauro

CL

Catarina Lebre

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

As proporções deste modelo intrigam à primeira vista. Mesmo desconhecendo a origem ou a sua utilidade, é difícil não ficarmos encantados com o pormenor das estruturas e querermos aprender um pouco mais sobre botânica.

Com a reforma da educação nos finais do século XIX era necessário adaptar as salas de aulas às novas ideias de um ensino mais prático e adquirir materiais didáticos que acompanhassem os novos métodos de ensino. Seguindo esse princípio, este modelo integra um conjunto que foi sendo adquirido para dar apoio às aulas de botânica.

Foi produzido pela Companhia Brendel, com sede na Alemanha e que se especializou nestes modelos desde 1866. Com a parceria entre botânicos e artesãos de grande qualidade, produziram modelos de plantas de grande precisão anatómica, recorrendo a materiais simples, tais como papier machê, madeira, gesso e cartão. O tamanho e ampliação das estruturas e o facto de terem partes amovíveis, fez com que a Companhia Brendel tivesse muito sucesso nos finais do século XIX por toda a Europa, tendo inclusivamente ganho medalhas na Exposição Universal de Paris em 1900.

Este modelo de figo-comum está apoiado numa base que tem uma etiqueta que identifica o exemplar com o seu nome científico, à semelhança de todos os modelos produzidos por esta companhia. Neste caso, a inflorescência do modelo à esquerda é constituída por duas metades amovíveis. Uma dessas metades foi fragmentada e felizmente os fragmentos não foram perdidos (fig. 1).

Os fragmentos foram devidamente colados com adesivo adequado, com qualidade de conservação e garantia de estabilidade e a fissura provocada pela fragmentação foi reintegrada com tinta de base aquosa, reversível, apenas nos locais em falta, para que se possa remover no futuro, caso seja necessário. Pode observar-se na figura 2 o aspeto final do exemplar após a intervenção.

A intervenção de conservação e restauro é apenas a etapa final, após ter-se observado o exemplar, identificado os materiais constituintes e ter estabelecido uma metodologia própria para o caso que temos entre mãos. Apesar de cada objeto ser diferente, os princípios seguidos são sempre idênticos: intervenção mínima, utilização de materiais reversíveis, com qualidade e estabilidade. Todas as decisões são ponderadas e os materiais escolhidos de acordo.

Quando observamos alguns exemplares, encontramos por vezes “restauros” feitos com boa-fé e as melhores intenções, embora com materiais incorretos e que impossibilitam a conservação e restauro de qualidade, porque a sua remoção seria mais danosa para o objeto. O Restauro é uma ciência, que exige conhecimentos de Química, Física, Biologia, História, História de arte, técnicas de exame e análise, além do conhecimento das técnicas e materiais e dos fatores que causam a sua degradação, e como tal deverá ser realizado apenas por conservadores-restauradores, que têm o leque de competências e conhecimentos para tal. Não gostaríamos de ser operados por um serralheiro-mecânico, pois não? Deixemos o cuidado do património para quem sabe, para que não se perca para sempre.