Restaurar a Independência: D. João IV e a Universidade

Demonstrações de Fidelidade em Tempos de Restauração

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Arquivo

Universidade de Coimbra

…. Fui aclamado nesta cidade por Rey e Senhor natural destes meus reynos a que Deus foi servido restituir-me….

Com estas palavras se dirigiu, pela primeira vez, D. João IV ao Reitor da Universidade, D. Manuel de Saldanha, em 24 de dezembro de 1640. A sua aclamação como Rei, em 1 de dezembro daquele ano, ditou a restauração de Portugal, pondo fim a 60 anos de domínio espanhol. Em carta que escreveu dois dias depois, a 26, manifestava a necessidade de convocar Cortes em Lisboa, solicitando a presença do Reitor, que se faria representar por outra pessoa, se tivesse “justo impedimento” para deixar de ir. O que de facto sucedeu, pois esteve em seu lugar D. André de Almada, o anterior prelado universitário, cultíssimo professor de Teologia, a quem se ficou a dever a instalação de um telescópio em Coimbra. Por este telescópio, haveria o ilustre Christophoro Borri (1583-1632) de fazer as primeiras observações astronómicas na cidade de Coimbra, que ficaram registadas em gravura. Mas isto são outras notícias, a que aqui se alude, apenas superficialmente, pois vêm a propósito, quando falamos do mesmo D. André de Almada.

A notícia da aclamação de D. João IV chegara à cidade de Coimbra, logo em 5 de dezembro, tendo sido acolhida, entusiasticamente, em manifestações a que não foi alheia a Universidade e seus escolares. O Reitor D. Manuel de Saldanha convocou, para o dia 13 de dezembro, um claustro pleno, para decidir a forma pela qual se deveria ir beijar a mão a Sua Majestade, assim como os festejos e demonstrações públicas de regozijo que teriam lugar, decidindo também que a Universidade tivesse armas (picas e mosquetes) para as ocasiões em que fossem necessárias.

Quando hoje atravessamos e pisamos o chão do pátio da Universidade, então designado “terreiro da Universidade”, poucos saberão que ali tiveram lugar os mais belos festejos, de acordo com o gosto da época. O terreiro não tinha ainda, exatamente, a configuração atual, pois as obras pombalinas é que o delimitaram, como atualmente existe. Muitos ali acorreram para ver “jogar canas”, ver “correr carreiras”, assistir a “encamisadas” e observar as belas “luminárias”, (i. e. a iluminações das janelas). No ano seguinte, em 8 de fevereiro de 1641, houve cerimónia para eleger os melhores sonetos, poemas, epigramas, etc., em louvor de D. João IV. De tudo ficou memória, pela arte de Diogo Gomes de Loureiro que, nos seus prelos, imprimiu os Applausos da Universidade a El rey N. S. D. João o IIII, onde se publicam todos esses poemas e louvores e se descrevem os festejos realizados, iniciando-se a obra com a "Relaçam do successo que teve a acclamação del Rey nosso Senhor Dom João o IIII. na Universidade de Coimbra, & das festas com que a celebrou".

A Universidade participou, depois, nos anos que se seguiram, na defesa militar do país, tendo sido constituído em 1645 o 1.º batalhão académico que ajudou a restaurar a independência de Portugal.

Este batalhão atuou, particularmente, nas campanhas do Alentejo, tendo a Universidade assumido os gastos de armas (como picas e alabardas), bandeiras, fardamento, calçado e tambores.