Claudino Romeiro, in Memoriam

AA

A. S. Alves

Observatório Geofísico e Astronómico da Universidade de Coimbra

Claudino Romeiro entrou como funcionário para o Observatório Astronómico, por volta de 1975, ocupando-se do serviço de reprodução de textos em offset. Foi neste contexto que o conheci, tendo ele imprimido e encadernado a minha tese de doutoramento, em 1978. Passaram-se os anos e somente em 1991 voltei ao Observatório.

O Observatório vivia um período de intranquilidade e, perante a patente incomodidade provocada por esta situação, em 1991 propus-me assumir a sua direção. Cheguei às Almas de Freire munido somente da doutrina de que a liderança não consiste em comandar, mas sim em incitar a ação daqueles que querem fazer bem e conter as ervas daninhas que medram na ausência de autoridade.

O Espectroheliógrafo estava em funcionamento pleno e não precisava de intervenção. Voltei-me para a coleção de instrumentos astronómicos vendo, com surpresa, que o inventário estava praticamente completo, embora conservado nas saudosas disquetes de 5 ¼. Faltava fotografar as peças, o que foi feito com uma pobre máquina digital da primeiríssima geração. Converter as disquetes e fotografar foi basicamente o trabalho de Claudino Romeiro, que trouxe para o serviço as suas competências pessoais de colecionador.

Improvisou-se ele em mestre-de-obras e transformou o pavilhão do Círculo Meridiano em local para a coleção; entretanto, a Fundação Gulbenkian restaurou o atlas astronómico de Bode, o que exigiu a ampliação da área de exposição, e muitos aparelhos puderam ser restaurados graças à arte do Senhor Carvalheira que pontualmente se apresentava ao serviço, mesmo estando reformado. Alguns instrumentos foram usados na prática para se aferir da sua exatidão, nomeadamente o astrolábio náutico Coimbra. Claudino Romeiro orientou a participação na exposição de S. Paulo em 2005; juntos escrevemos a parte do catálogo que competia ao Observatório.

As arrumações e adaptações do edifício fizeram surgir, em armários há muito fechados ou por detrás destes, documentos e mapas, na sua maior parte referentes ao Brasil.

É preciso ver que o Observatório não é somente um edifício. É uma área com 7,5 hectares, parcialmente coberta por uma mata de cedros. O perigo de incêndio espreitava todos os verões e as precauções a tomar eram também da competência do Senhor Romeiro.

Nesta colaboração estreita e despida de qualquer hierarquia se solidificou uma amizade que nunca precisou de palavras. Partiu cedo, quando a obra ainda está longe do fim. Nós, os que respeitam o passado, ficámos indubitavelmente mais pobres.