Recomeçar a Vida no Novo Convento de Santa Clara de Coimbra

As obras de edificação e o recomeço…

AB

Ana Maria Bandeira

Arquivo da Universidade de Coimbra

[…] Hei por bem, quero e me praz […] que se mude e treslade o dito Convento de Santa Clara para o monte que está junto à ermida de Nossa Senhora da Esperança […]

Assim se determinava o recomeço de uma nova etapa, na vida de uma das maiores casas monásticas femininas de Coimbra e quiçá, de forma esperançosa, se dava recomeço ao novo edifício, após tantos anos de inundações, do antigo Convento de Santa Clara, vítima permanente das enchentes do rio Mondego.

O Rei D. João IV ordenava a transferência das religiosas clarissas, atribuindo, para as despesas de construção do novo edifício, “os sobejos das rendas dos Almoxarifados” do reino, de mil cruzados anuais e, ainda, o que já fora “consignado nas rendas” do bispado de Coimbra. Para boa garantia de adminstração, logo a 4 de janeiro de 1648, foi feita nomeação régia do Conde de Cantanhede, como superintendente das obras.

Depois de adquirir os terrenos necessários, junto à ermida de Nossa Senhora da Esperança, onde apenas havia olivais, foram dadas instruções ao arquiteto beneditino Frei João Torriano, sobre a traça que iria fazer para a “nova fundação do Convento”. A execução das obras foi arrematada pelo mestre Domingos de Freitas, com o qual foi feito contrato em 16 de março de 1649.

Por Provisão Régia de 19 de junho de 1649, dirigida ao Reitor da Universidade, D. Manuel de Saldanha, D. João IV ordenava que este o representasse na cerimónia de lançamento da primeira pedra da nova edificação, determinando, ainda, que nessa pedra se registasse uma inscrição latina, com a sua decisão régia de erguer o novo edifício, em louvor da Rainha Santa Isabel.

Entre 1670 e 1677 o arquiteto Mateus do Couto viria fazer a medição e a verificação do que já estava construído. Posteriormente, essa tarefa seria atribuída a Manuel do Couto, homem que já dera muitas provas dos seus conhecimentos como “capitam engenheiro das fortalezas da Barra, fortes da costa, praça de Cascais e Peniche” e também arquiteto régio. Fez a avaliação das obras do refeitório, de escadarias e também a renovação da ermida de Nossa Senhora da Esperança. Muitos outros nomes ficaram ligados à construção do novo edifício, que demorou anos até ser concluído. Refiram-se, entre outros, os nomes de Gaspar Ferreira e Custódio Vieira, arquiteto dos Paços Reais e do Real Convento de Santa Maria da Vitória, da Batalha. Este último verificou em 1737, a medição das obras do claustro, alguma escadaria, campanário, etc.