“Civilizar” a Universidade: Anos Letivos ou Anos Civis?

AA

A.E. Maia do Amaral

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

Depois das “Festas” e de cumprido mais um ano, estes seriam os dias de recomeçar, em sítios normais, em tempos normais. Mas, nestes dias de pandemia, o conceito é usado e abusado à medida que acumulamos vontades de recomeços vários, até das meras rotinas que nos cansavam: almoçar fora, ir ao cinema, visitar os nossos maiores, viajar…

O conceito de recomeçar supõe que exista um ritmo, implica fins e princípios. Mas, os ritmos da universidade são muito diferentes. Nestas velhas corporações medievais, o Tempo autonomizou-se (com o seu relógio, o toque dos sinos) e um calendário próprio canonizou-lhe a autonomia. Aqui, o Ano começa com a Abertura Solene, por isso mesmo chamada outrora “Principium”.

O nosso “Ano” já começou, então, a 14 de outubro de 2020. É o “ano letivo”, “ano escolar” ou “ano académico”, como é mais comum dizer-se no Ensino Superior. “Ano académico” que se divide em períodos letivos, períodos de avaliação e de férias (Despacho Reitoral Nº 149/2020, de 25 de junho).

Regulam-se por esse calendário académico as matrículas dos alunos, a contratação dos professores, o funcionamento dos serviços. Contudo, a contabilidade, a avaliação dos profissionais, as inúmeras solicitações dos organismos públicos nas áreas da supervisão e da estatística exigem respostas por ano civil. Cada vez mais!

Por exemplo, a Biblioteca Geral sempre fez por anos letivos os relatórios de atividades. Mas é ao ano civil que reportamos ao INE as atividades culturais realizadas e os seus públicos, à IGAC o número de fotocópias vendidas e à Sociedade Portuguesa de Autores acerca do estrito cumprimento do Direito de Autor. Et pour cause, a BGUC foi distinguida em 2015 com a Medalha de Honra da SPA.

Para responder àquelas solicitações externas, temos sempre de vasculhar dois relatórios. Por isso, nos parece urgente refletir, desde já, se não devemos prescindir de certas tradições para ser mais “Univers(c)idade”? Entendendo bem que a submissão a um tempo civil só nos “civiliza” etimologicamente.