O Pigmento da Ibirapitanga

MV

Marcelo Vianna

Jardim Botânico da Universidade de Coimbra

O pau-brasil (Figura 1), também chamado ibirapitanga, entre outros nomes comuns, e de nome científico Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, H.C.Lima & G.P.Lewis, é uma espécie atualmente rara e ameaçada de extinção. O pau-brasil foi uma fonte de pigmentos para tintas que tem histórico de maneira inegavelmente ligada a Portugal.

Sendo uma árvore endémica da costa brasileira, terá sido a expressão Costa do Brasil, ou do Pau-brasil, que de tanto ser utilizada pelos mercadores do século XVI, acabou por ‘destronar’ o nome Terra de Santa Cruz, originalmente dado pela Coroa Portuguesa ao território. Na época, a expressão referia-se à região de cerca de 3000 km de extensão, entre os atuais estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte, em cujas matas o pau-brasil era então facilmente encontrado.

A brasilina é o corante vermelho natural obtido a partir da madeira das leguminosas Paubrasilia echinata e de Caesalpinia sappan L., Caesalpinia violacea Standl. e Haematoxylum brasiletto H.Karst. Atualmente também conhecida como Natural Red 24 e CI 75280, a brasilina era já usada desde a Idade Média para fabrico de tintas e pigmentos, a partir de matérias primas provenientes do oriente. A cor específica produzida pelo pigmento depende do seu modo de preparação: numa solução ácida, a cor da brasilina aparecerá amarela, mas numa preparação alcalina, ela será vermelha. O pigmento acabou por ser substituído mais tarde por alternativas não naturais, mais económicas, e que não manchavam os tecidos de amarelo em contacto com substâncias ácidas. Tal acontecia, por exemplo, quando, ao andar a pé, as vestes tingidas de vermelho se arrastavam nos caminhos encharcados com urina dos animais.

A distribuição geográfica original do pau-brasil e o tamanho das suas populações nativas sofreram uma grande redução pelo corte de árvores, causado pela exploração da sua madeira, pela abertura de áreas para atividades agropecuárias e florestais e pela urbanização do litoral brasileiro. Atualmente, as populações naturais de pau-brasil estão restritas a poucos fragmentos florestais, incluindo algumas unidades de conservação regionais. A planta ainda é utilizada atualmente para fabrico de arcos de violino, por ser considerada de alta qualidade e resistência.