Arredondando aniversários – os primeiros passos do Jardim

TG

Teresa Girão

Jardim Botânico da Universidade de Coimbra

O ano de 2022 será repleto de celebrações na Universidade de Coimbra – 1772 foi o ano das reformas Pombalinas – e o seu Jardim Botânico também estará em festa. Em ditos números redondos, o Jardim Botânico irá comemorar 250 anos, um aniversário que assinala o momento, simbólico, de apresentação dos novos Estatutos da Universidade, onde se pretendia que transparecesse o espírito regenerador e de rutura com o passado, e fazendo parte deles a pretensão do ‘estabelecimento d’um Jardim Botânico no qual se mostrem as plantas vivas1.

Do mesmo modo que as reformas introduzidas na Universidade de Coimbra a partir de 1772 surgiram após longos períodos de discussão de ideias de renovação, nomeadamente científica, também nas décadas anteriores haviam surgido planos para a criação de um horto botânico, por parte de Jacob de Castro Sarmento (Fig. 1), proposta que, apesar de não implementada, pode ter tido eco no posterior projeto reformista do Marquês de Pombal2.

O próprio Marquês viria ainda a recusar o primeiro plano feito propositadamente para o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (Fig. 2), por considerá-lo excessivo tanto em custo como na sua conceção, dado que ele o pretendia limitado apenas ao cultivo das plantas medicinais indispensáveis para o ensino e não um jardim opulento com culturas de plantas exóticas3.

Muitas transformações se seguiram no Jardim Botânico nas décadas seguintes, com novas incorporações de terrenos e novos patamares, entre progressos e interrupções. Esperam-nos por isso novos aniversários, e novos desafios, nos próximos anos.

1 Os Estatutos Pombalinos da Universidade de Coimbra foram apresentados na forma de três livros, o terceiro dos quais referente aos Cursos das Ciências Naturais e Filosóficas, onde se encontra consignada a criação do Jardim Botânico para complemento do gabinete de História Natural.

2 Jacob de Castro Sarmento, médico português exilado em Inglaterra, enviou em 1731 ao então reitor da Universidade de Coimbra, Francisco Carneiro de Figueiroa, o plano de um horto botânico para cultivo de plantas com aplicação no domínio da Medicina, não recebendo deste uma resposta favorável. Este plano foi desenhado pelo arquiteto Edward Oakley, e havia sido já anteriormente enviado à Academia Real de História, em 1730, que o recusou.

3 A escolha do local para instalação do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra – parte da cerca do Colégio de S. Bento – foi da responsabilidade dos professores da Faculdade de Filosofia Giovanni Antonio Dalla Bella e Domenico Vandelli (nomeados pelo próprio Marquês de Pombal para a Universidade de Coimbra) juntamente com o reitor D. Francisco de Lemos. O primeiro esquisso do Jardim, notoriamente influenciado pelo Jardim Botânico de Pádua – tal como terá sido a planta desenhada por Giulio Mattiazzi para Coimbra, em data incerta –, foi-lhes encomendado e, juntamente com eles, desenhado pelo engenheiro William Elsden (ca. 1773).