Centenários e Outros Números Redondos

PA

Por A. E. Maia do Amaral

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

Alguns dos episódios mais divertidos da história da Universidade de Coimbra giram em torno da “mania dos centenários”, que varreu a sociedade portuguesa no final do século dezanove: parodiando um certo furor nacionalista e patriótico, os estudantes decidiram celebrar também um centenário só seu, o da “Sebenta” (1899), com cortejos, publicações, récitas e até com o apropriado merchandising.

O próximo ano de 2022 pode também vir a sofrer de algum excesso comemorativo, já que nele se concentram vários centenários e outros “números redondos”, a pedir comemoração.

Elencam-se, a título de exemplo:

  • 1572 a primeira publicação de Os Lusíadas e a morte de São Francisco de Borja y Aragon,
  • 1622 a canonização de Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier, São Felipe Neri, Santa Teresa D’Avila e Santo Isidro, todos declarados santos no mesmo dia,
  • 1772 a Reforma Pombalina com a criação da Faculdade de Ciências (Philosophia Natural) e a refundação da Imprensa da Universidade,
  • 1822 a independência do Brasil,
  • 1922 o nascimento de José Saramago,
  • 2002 o início da circulação do Euro e a retoma da independência de Timor-Leste.

Por esta época, começamos habitualmente na Biblioteca Geral a preparar o plano de atividades do ano que vem. Nesse plano têm sempre lugar atos comemorativos e algumas destas datas serão lembradas, certamente.

No passado, apesar da COVID-19, não nos esquivámos a celebrar com uma exposição muito digna os 500 anos da viagem de Magalhães-Elcano e decerto não evitaremos a próxima celebração dos 50 anos do “vinte cinco de abril”.

Por mais apetecidas que possam ser as datas centenárias, a atividade cultural da BGUC vai muito para além delas, é quase contínua. Com os estudantes de 1899 aprendemos a não nos fixarmos doentiamente em “números redondos”. Até porque – como a cantiga diz do Natal – centenário é quando um homem quiser. E para o provar, fica aqui o anúncio público e o compromisso solene de que iremos comemorar, em 2023, o “centenário adiado” do nascimento de Jorge Peixoto.