Um Jardim Feito de Pessoas

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Joana Cabral Oliveira

Jardim Botânico da Universidade de Coimbra

O Jardim Botânico, feito de plantas, é também um reportório de humanidade.

Reflexo dos muitos que por ele passaram, diretores e jardineiros, estudantes e professores, turistas e passeantes. De todos é feita a história e a alma do Jardim.

Muitos ficaram registados. Por episódios a eles associados, pelas árvores por suas mãos plantadas, pelas decisões e planos traçados.

Estórias conhecidas, como a antiga corticeira (Erythrina crista-galli) plantada por Brotero, no Quadrado Central. Aí ficava a Escola, canteiros retangulares repletos de plantas a serem observadas pelos alunos da Universidade, talhões que, mais tarde, passariam a uma ordenação concêntrica — deixando, talvez para a todos relembrar a sua vetusta idade, esta representante do trabalho de Brotero fora do canteiro (Fig. 1).

Mas também os graciosos eucaliptos-limão, com o seu tronco branco e folhas com intenso cheiro cítrico (Fig. 2), que nos remetem para Júlio Henriques. Diretor durante 45 anos, foi responsável por reformulações de diversos espaços do Jardim, e por uma verdadeira reforma no ensino da Botânica. Fundou a sociedade Broteriana e promoveu a permuta de sementes e plantas com diversas instituições. Entre as quais, o distante Jardim Botânico de Melbourne, na Austrália, de onde vieram diversos eucaliptos, que constituíram no jardim uma coleção com mais de 50 espécies diferentes.

Contudo, o Jardim Botânico tem outras tantas ou mais histórias por descobrir. Guardadas na memória dos mais velhos, nos fundos documentais, nos Arquivos.

Assim acontece com o nome do primeiro jardineiro, João Luiz Rodrigues Villar, vindo do Real Jardim Botânico de Lisboa, onde já contava com mais de 20 anos de experiência. Chegou a Coimbra com as primeiras plantas destinadas ao Jardim e acompanhado por Júlio Mattiazzi, jardineiro-chefe em Lisboa, o qual deveria regressar após a instalação das primevas culturas. Ficou João Villar nomeado responsável por cuidar dessas plantas iniciais, tornando-se jardineiro do então Horto Botânico, desde 19 de novembro de 1774.

Depois desses primórdios, com Vandelli e João Villar a darem início ao Jardim, muitos outros, homens e mulheres, asseguraram forma e vida aos espaços crescentes do Jardim.

Hoje Património da Humanidade da UNESCO, saiba este espaço, saibamos todos nós, preservar não só as suas coleções e edificado, mas ainda a história dos tantos que por ele passaram.