“… per tal guisa que nosso irmão posto em mingoa possa seer alevantado della…”

AB

Ana Maria Bandeira

Arquivo da Universidade de Coimbra

A Confraria de São Nicolau de Coimbra recebeu o seu Compromisso ou, também, designado Regimento, em outubro da era de 1182; sendo a datação da era visigótica, depois de convertida para a Era Cristã, vem a ser o ano de 1144.

É, pois, uma das mais antigas Confrarias de Coimbra que virá a ser extinta, tal como as restantes, por ocasião da reforma hospitalar de D. Manuel que irá anexar ao Hospital Real de Coimbra todas as pequenas Confrarias, Irmandades e Albergarias da cidade, em 1504.

A sua vocação assistencial prevalecia, acima de tudo, revelando o seu Compromisso todo o cuidado caritativo, numa expressão de solidariedade e humanidade para com o outro que é nosso igual, segundo os princípios cristãos que a norteavam, em honra de São Nicolau. Tudo fica expresso, nesta pequena frase: que “huum ame ho outro damor de hirmaão”.

A humanidade das regras que a orientavam revela-se no que é dito no próprio Compromisso, quanto ao apoio na pobreza e na doença, a todos os membros da confraria: “se lhe vier cativeiro ou pobreza ou outra necessidade todos como irmaãos em huua vontade lhe façamos esmola…

Entre as assinaturas dos confrades, verificamos existirem nomes de mulheres, atestando a inclusão destas, sem diferença de género entre todos os que se uniam, debaixo dos mesmos preceitos. Assim, ali estão a mulher de Álvaro Martins, Maria Rodrigues, a mulher de Gil Lourenço, etc.

A sobrevivência da instituição residia nas ofertas de bens que lhe eram concedidas. A boa administração destes bens rústicos e urbanos, assim como esmolas que lhe eram dadas, permitiam apoiar os pobres e enfermos, nos seus momentos de fragilidade.

Passaram quase mil anos sobre a redação deste texto e a sua atualidade é inequívoca.